“Nosso caduco modelo de desenvolvimento econômico não trouxe bem-estar social”, aponta o ex-secretário estadual Allan Aguiar
Confira:
Com atrativos naturais imbatíveis quanto às suas belezas, clima tropical predominando e uma enorme vocação para atrair visitantes. Dois Estados de nações americanas, um no extremo sul da América do Norte e o outro no extremo norte da América do Sul, brindados por localizações estratégicas excepcionais e que favorecem muito a acessibilidade aérea de ambos. Mas isso não é tudo para fazer a economia do turismo rodar e as semelhanças das vocações ficam por aqui.
Com destinos econômicos e sociais bem distintos, esse Estado do Brasil e esse Estado dos EUA, alicerçados por políticas públicas completamente opostas e por investimentos privados cultivados com adubos diferentes, experimentam hoje realidades profundamente marcadas pela linha do Equador que separa o norte e o sul do planeta. Desde que um empresário singular e visionário decidiu eleger o centro da Flórida para erguer seu mundo mágico, ele se chamava Walt Disney e isso foi há quase 100 anos, Orlando arrastou a própria Flórida para o centro da demanda turística global por destinos lúdicos. Ao longo desses anos todos e com marcos regulatórios, tributários, urbanos e relativos ao meio ambiente, a Flórida e sua vocação turística explodiram.
Disponibilizando uma infraestrutura rodoviária, portuária e aérea, consideradas as melhores do mundo, catapultada pelo melhor clima da América do Norte e com uma promoção turística de peso, o capital privado fez sua parte construindo maravilhas em forma de parques temáticos, hotéis, resorts, restaurantes e um cardápio de atrações turísticas inigualável.
Destino para quem demanda o lúdico, o sol e praia, a gastronomia, os eventos, a cultura e o meio ambiente, a Flórida e suas principais âncoras, como Miami, Orlando, Tampa, Jacksonville e a capital Tallahassee, passaram a atrair não somente turistas, mas muitos americanos do norte, frio e úmido, para morar. Afora os milhares de latinos que também fizeram essa mesma opção.
Os resultados que a contabilidade do turismo vem apresentando nos últimos tempos impressionam todos os analistas especializados em desempenho de destinos turísticos. Com 134 milhões de turistas/ano, a Flórida é um fenômeno. Desses, mais de 4 milhões são estrangeiros, sendo mais de 1 milhão de brasileiros. Portanto, 130 milhões de americanos do norte, com renda per capita 10 vezes superior à do Ceará, circulam anualmente pela Flórida despejando empregos, renda, consumo e muita qualidade de vida.
Quanto ao nosso Ceará, assim como outros estados do Nordeste, apostaram errado e perderam o bonde do desenvolvimento e da qualidade de vida das suas populações. Queria enriquecer com indústrias, e para tanto deram incentivos que o turismo jamais teve. Nem rodovias decentes para polos turísticos o governo do Estado disponibiliza, como no caso do icônico Beach Park, que continua com vias de acesso de terceiro mundo e sem infraestruturas básicas. O Ceará direcionou suas velas para tentar ser um “tigre asiático” e um “vale do silício”. Não conseguimos virar nem a São Paulo do Nordeste, muito menos a Flórida do Brasil. Nosso caduco modelo de desenvolvimento econômico não trouxe bem-estar social e nos jogou na armadilha da baixíssima renda e no colo definitivo do assistencialismo dos bolsas famílias da vida.
Sendo assim, só nos resta visitar de vez em quando a Flórida para viver as experiências e constatar que, ano após ano, o turismo só cresce e se agiganta diante dos demais setores da economia, mesmo com os furacões devastadores que de vez em quando varrem o Estado. Neste quesito, o Ceará leva vantagem, mas nossa miopia, insensibilidade e inércia são tão profundas que não precisamos de furacões para nos destruir. Nós mesmos o fazemos com nossas próprias mãos.
Allan Aguiar
Ex-secretário do Turismo do Ceará