Com o título “Fortaleza 2024: a nacionalização de uma disputa”, eis artigo de Cleyton Monte, cientista político, professor universitário, pesquisador e diretor do Centec. Ele aborda o cenário da peleja na Capital cearense.
Confira:
A literatura em Ciência Política indica que a eleições municipais são influenciadas pela correlação de forças locais. Raramente, o xadrez nacional chega a ser decisivo nesse embate. Contudo, o confronto entre as duas principais forças políticas, deu novos contornos a uma série de pleitos. A grande questão acaba sendo saber se a eleição será ou não influenciada pela polarização nacional. Salvo algum fato de última hora, teremos em Fortaleza a nacionalização da corrida pela Prefeitura. As últimas pesquisas indicam uma consolidação das candidaturas de André Fernandes e Evandro Leitão. Vários fatores contribuíram para esse quadro.
O mais relevante foi a estagnação do prefeito Sarto. Concentrando-se em uma estratégia de marketing debochada, deixou de lado as obras do seu governo, propostas e discussão sobre eventuais omissões. Se tornou alvo fácil dos opositores, com ampliação da rejeição. Nesse caso, a máquina isoladamente e o aparato de muitos vereadores não foram suficientes. Por outro lado, Capitão Wagner buscou vestir a roupa do personagem “paz e amor”, subestimando a força de um adversário direto e em pleno crescimento na ala da direta. Quando se deu conta do descaminho, procurou mirar no “soldado de Bolsonaro”, obtendo poucos resultados. As ações de Evandro Leitão e André Fernandes foram além dos padrinhos políticos. Ambos abusaram dos recursos disponíveis. André, que pouco acionou a imagem de
Bolsonaro, atraiu a atenção dos evangélicos e do eleitor jovem com uma comunicação envolvente – reforçando a tática pelas redes sociais. O presidente da Assembleia Legislativa, por sua vez, conseguiu, a partir de um generoso tempo de rádio e TV, explorar o apoio de Camilo e Lula (dois poderosos cabos
eleitorais), tornar-se conhecido e garantir a capilarização da sua mensagem. São as tendências estruturais.
A campanha eleitoral é um empreendimento que não permite amadorismos. É muito curta para mudanças de rota. De qualquer forma, nossa tradição política sempre registra um percentual significativo de eleitores que pode mudar o voto 48h antes da abertura das urnas. Vamos acompanhar os próximos dias e checar se a nacionalização se confirma como lógica da disputa ou se alguma surpresa se impõe de última hora. Desenho essencial para compreender a configuração do segundo turno.
*Cleyton Monte,
Cientista político, professor universitário, pesquisador e diretor do Centec.