Com o título “Fortaleza como espaço de encantamento”, eis artigo semanal de Suzete Nocrato, jornalista e mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará. “Ver as ruas de Fortaleza ocupadas por versos de 80 poetas, letristas, romancistas e escritores locais em outdoors desperta um sentimento de encantamento e pertencimento, uma vez que homenageia e estimula a literatura cearense e seus autores”, expõe a articulista.
Confira:
No Ceará de poucos leitores, o projeto Poesia em Cartaz, fruto da sensibilidade do publicitário e escritor Paulo Fraga-Queiroz, é um refrigério para estes tempos estranhos e um doce alívio para a alma. Ver as ruas de Fortaleza ocupadas por versos de 80 poetas, letristas, romancistas e escritores locais em outdoors desperta um sentimento de encantamento e pertencimento, uma vez que homenageia e estimula a literatura
cearense e seus autores.
O mais comovente na proposta é que ela lança luzes sobre jovens estreantes de diferentes expressões de gênero – vozes que, tantas vezes, não encontram lugar no mercado cultural –, colocando-os lado a lado com nomes já consagrados. Dessa forma, a cidade passa a respirar arte, poesia.
Torço para que a ideia não se limite a este período do ano, em que as pessoas costumam ficar mais emotivas, receptivas e até introspectivas. Que seja abraçada por instituições e governos, trazendo beleza aos fortalezenses em seu trafegar cotidiano.
Infelizmente, vivemos pouco da cena literária contemporânea produzida no Ceará. Há exceções, como Ana Miranda, Socorro Acioli, Stênio Gardel, Tércia Montenegro, Lira Neto, Mailson Furtado, Glória Diógenes e Flávio Paiva. Mas tantos outros despontam com qualidade e frescor — como Ana Márcia Diógenes, Alberto Perdigão, Ana Karla Dubiela, Kelson Bravos — e enfrentam batalhas para ampliar suas vozes e levar leveza aos corações e mentes.
É um caminho árduo de desbravar. Eu sei. Depois de décadas no jornalismo, tento seguir por essa nova vereda. Ela se abre diante de mim como a Caatinga: vasta, rica, cheia de vida escondida entre espinhos. Suas trilhas, embora diversas e prenhes de possibilidades, guardam surpresas que exigem calma, fôlego e uma escuta atenta.
Em paralelo, foi lançada a campanha “Livro é presente. Dê livros de escritores c earenses”. O movimento propõe que o Natal seja celebrado também com obras produzidas por autores(as) da terra, numa valorização do que é feito aqui. Eu já aderi. É sempre bom lembrar que a literatura, além de fundamental para a autonomia intelectual, abre caminhos de possibilidades e é uma ferramenta essencial para o pensamento crítico e reflexivo.
O Ceará tem grandes escritores. Valorizemos.
*Suzete Nocrato
Jornalista e Mestra em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará – UFC