“Já se vão quase seis meses de administração municipal, e o discurso ainda gira em torno do que se pretende fazer”, aponta o empresário Gera Teixeira
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A Prefeitura de Fortaleza parece ter adotado o “reclame” — como se dizia antigamente da propaganda — como sua principal política pública. Espalha com entusiasmo campanhas ufanistas, exaltando promessas e intenções, muitas das quais ainda não saíram do papel. Não raro, essas peças publicitárias vêm acompanhadas de críticas veladas (ou nem tanto) à gestão anterior, em uma retórica que se repete no âmbito estadual: responsabilizar o passado para justificar a paralisia do presente.
Já se vão quase seis meses de administração municipal, e o discurso ainda gira em torno do que se pretende fazer. A “lenga-lenga” institucionaliza a inércia. Enquanto isso, a cidade real — a que se move longe das câmeras e dos slogans — sofre com problemas crônicos, como mobilidade urbana precária, insegurança crescente, ausência de políticas robustas de inclusão social e um sistema de saúde ainda sobrecarregado. Em vez de ações efetivas, temos narrativas.
É preciso, contudo, reconhecer a inventividade das agências de publicidade que atuam para o poder público. Elas exprimem com destreza a criatividade cearense, que nunca faltou. O problema, no entanto, não está na forma, mas no conteúdo — ou melhor, na sua falta. A propaganda, por mais bem elaborada, não substitui políticas públicas concretas nem resolve as urgências da população.
Mais grave ainda é a crescente profissionalização da patrulha virtual. Há pessoas contratadas ou cooptadas para monitorar comentários e críticas nas redes sociais, sobretudo nos grupos de WhatsApp, agindo com presteza quase militar para rebater qualquer manifestação contrária. São os “Patrulheiros Toddy” — termo bem-humorado, mas tristemente real — e os “meninos esforçados” que repetem, como papagaios digitais, o conteúdo da propaganda oficial. Muitos desses jovens, com talento e energia, poderiam estar contribuindo em setores produtivos e inovadores, em vez de reduzirem seu potencial ao papel de escudeiros de ocasião.
E, como sempre, não faltam os “carimbados babões”, aqueles que, a cada ciclo político, se reposicionam para continuar a serviço de quem quer que esteja no poder. São figuras recorrentes, hábeis em trocar de camisa conforme a maré eleitoral, mas sempre prontos a entoar loas a seus novos benfeitores.
O contraste é evidente: há duas Fortalezas e dois Ceará. Um, moldado pela propaganda, pelo “reclame” oficial, cheio de cores, promessas e hashtags. Outro, vivido cotidianamente por quem pega ônibus lotado, espera meses por uma consulta médica, convive com o medo nas ruas e vê a desigualdade social se alargar. Essa dicotomia não é mais possível de esconder — nem mesmo pelos mais servis.
Há, porém, um alento. Reside na memória de gestões que fizeram história, como a de Roberto Cláudio, cuja administração foi marcada por planejamento, obras estruturantes e uma equipe técnica de excelência. E também na figura de Ciro Gomes, cuja trajetória é marcada por ação e coragem — alguém que fala o que pensa e realiza sem precisar construir castelos de vento com palavras vazias.
Diante do cenário atual, o que se espera não é mais propaganda, mas uma retomada firme da política como serviço público verdadeiro, com planejamento, seriedade e compromisso. Fortaleza e o Ceará clamam por um novo ciclo, que substitua o “reclame” pela realização, a encenação pela verdade, e a propaganda pela presença concreta do Estado na vida das pessoas.
Gera Teixeira é empresário e leitor assíduo do Blogdoeliomar