“Fortaleza sob Tensão: até o registro de água virou ameaça” – Por Plauto de Lima

Plauto de Lima é coronel da reserva da PM e mestre em Planejamento de Políticas Públicas. Foto - Arquivo Pessoal.

Com o título “Fortaleza sob Tensão: até o registro de água virou ameaça”, eis artigo de Plauto de Lima, coronel RR da PMCE e mestre em Planejamento de Políticas Públicas. “A confusão entre um simples registro de água e uma bomba é mais do que um mal-entendido: é o retrato de um povo que vive sob constante sobressalto. Quando a criminalidade se impõe no dia a dia, a linha entre realidade e paranoia se estreita”, expõe o articulista.

Confira:

“Tem uma bomba na caixa de registro da CAGECE!” — o grito de alerta não ecoou em nenhuma cidade norte-americana nem na explosiva Faixa de Gaza, em Israel. O fato aconteceu em Fortaleza, no bairro Joaquim Távora. Bastou esse aviso para que todos da residência saíssem às pressas, inclusive um casal de idosos, que precisou da ajuda de familiares para ser conduzido a um local seguro.

Vizinhos acionaram a Polícia e, em poucos minutos, duas viaturas da Polícia Militar já isolavam todo o quarteirão. Famílias das casas próximas também abandonaram seus lares, temendo o poder destrutivo do suposto artefato. Em instantes, curiosos se aglomeraram no entorno, levantando hipóteses de que aquilo seria mais uma ação de facções criminosas que dominam regiões inteiras e agora avançariam até dentro das residências. O medo estampava os rostos, como se a ameaça terrorista, tão comum em noticiários internacionais, tivesse batido à porta da comunidade.

Logo chegou ao local uma equipe do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE), formada por policiais especializados em ocorrências com explosivos. Vestidos com equipamentos de proteção, dois agentes se aproximaram da caixa de registro da Cagece onde estava o objeto suspeito. Com cautela, desligaram fios aparentes e, em seguida, retiraram um dispositivo maior para avaliação. Para surpresa de todos, não se tratava de uma bomba, mas sim de um novo modelo de registro implantado pela companhia, utilizado para a leitura do fluxo de água. A presença de fios com capa vermelha e a forma como estavam dispostos deram a falsa impressão de um artefato explosivo.

Esse episódio, inusitado à primeira vista, revela de forma contundente o quanto a sensação de insegurança está arraigada em nosso cotidiano. O medo coletivo foi suficiente para transformar um equipamento comum em uma ameaça de destruição. Em uma sociedade onde a violência não é exceção, mas rotina, qualquer detalhe desperta pânico e reação desproporcional.

A confusão entre um simples registro de água e uma bomba é mais do que um mal-entendido: é o retrato de um povo que vive sob constante sobressalto. Quando a criminalidade se impõe no dia a dia, a linha entre realidade e paranoia se estreita. O medo deixa de ser apenas sentimento e passa a moldar a percepção da vida em comunidade. Esse episódio nos convida a refletir: até quando aceitaremos conviver com tamanha insegurança, que corrói a confiança, fragiliza laços sociais e transforma a vida em permanente estado de alerta?

*Plauto de Lima

Coronel RR da PMCE e mestre em Planejamento de Políticas Públicas.

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