Categorias: Artigo

“George Orwell na Era da IA & Fake News” – Por Mauro Oliveira

Mauro Oliveira é PhD em Informática por Sorbonne. Foto: Arquivo Pessoal

“O Brasil precisa se posicionar como protagonista no desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA), investindo em pesquisa, capacitação e inovação para criar soluções que reflitam nossa cultura e nossas necessidades”, aponta o professor Mauro Oliveira

Confira:

Imagine, só por um instante, que no clássico seriado Túnel do Tempo, exibido nos anos 60 pelo Canal 2 da TV Tupi (do icônico João Ramos), os cientistas Doug Phillips e Tony Newman (lembram deles e suas roupas estranhas?) tivessem emergido no meio de uma reunião da “Sala de Justiça” das Big Techs.

Lá, nossos viajantes do tempo se deparariam com os “Sete Grandes Irmãos”, aqueles que, entre um café gourmet e uma palestra no TED, planejam o nosso futuro brilhante (ou seria pixelado?):

• Elon Musk mandando o presidente dos EUA calar a boca — quem precisa de democracia quando se tem um foguete, né … que dá ré (rsrsr)?

• Mark Zuckerberg, o METAfake do caso Cambridge Analytica, “aumentando a realidade” para os dados caírem direto no seu servidor.

• Sam Altman, ainda de calças curtas na jogatina da IA, na dúvida se o código aberto do ChatGPT daria mais ganho … e grana.

• Andy Jassy sonhando em ser o Elon da Amazon, mas por enquanto só prometendo entregas de bugigangas no mesmo dia.

• Satya Nadella sugerindo ao Bill Gates uma atualização no mundo: “Não desligue o planeta durante a atualização.”

• Jensen Huang da NVIDIA, festejando o “Ano Novo Chinês” como se cada rojão fosse um pedido extra por GPUs.

Seria uma cena digna de uma nova temporada de Black Mirror, um reboot psicodélico do Túnel do Tempo, onde o futuro é descaradamente “monetizado”.

Essa história de Trancoso (“É o NOVO”, Tom Barros?) acima teria sido a pista inspiradora da visão assertiva de George Orwell em seu romance distópico “1984”, publicado em 1949. A obra se passa em um futuro totalitário onde a sociedade é controlada pelo Partido, liderado pela figura enigmática do Grande Irmão, quando parte do mundo está em um contínuo estado de guerra.

No cenário atual, em que o mundo assiste às grandes empresas de tecnologia liderarem o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA), ressurge o alerta de Orwell. Se, na obra 1984, o controle era exercido pelo Grande Irmão, através da manipulação da verdade (o Ministério da Verdade reescrevia a história para manter a narrativa), hoje, algoritmos e modelos de IA podem desempenhar um papel semelhante, influenciando percepções e decisões cotidianas e, o pior, de forma quase imperceptível.

Um exemplo real desse potencial manipulador foi o caso da empresa inglesa Cambridge Analytica, que utilizou dados pessoais de milhões de usuários do Facebook para obter perfis psicológicos e direcionar (fakes) news a eleitores. Este conluio foi determinante tanto na eleição de Trump em 2016 quanto no referendo do Brexit.

Um dos aspectos mais preocupantes desse cenário é, portanto, o poder das fake news, potencializado pelas ferramentas de IA. Se em 1984 de Orwell a distorção da verdade era uma prática institucionalizada pelo Partido, hoje, o controle das IAs poderá conferir a quem as domina a capacidade de amplificar narrativas falsas, manipular opiniões públicas e até criar realidades alternativas.

A geração automatizada de conteúdos e a personalização algorítmica podem construir ecossistemas onde o acesso à informação verdadeira se torna rarefeito, desafiando profundamente a capacidade crítica da sociedade.

Assim, o desafio contemporâneo se assemelha ao proposto por Orwell: como manter a liberdade de pensamento e o acesso à verdade em um mundo onde a realidade pode ser reescrita por linhas de código?

Estaríamos caminhando para uma nova versão da distopia orwelliana, onde a inovação tecnológica, sem regulação ética, poderia se transformar em um sofisticado instrumento de controle social, moldando a verdade conforme os interesses de poucos?

Para países na arquibancada da “Sapucaí da IA”, como o Brasil, vendo o futuro sendo “debulhado por mãos colonizadeiras” o risco é ainda maior. Permanecer apenas como consumidor de tecnologias externas aumenta nossa vulnerabilidade e compromete a soberania digital, expondo o país a incertitudes econômicas, sociais e culturais.

A saída é única: o Brasil precisa se posicionar como protagonista no desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA), investindo em pesquisa, capacitação e inovação para criar soluções que reflitam nossa cultura e nossas necessidades.

O Ceará tem um papel estratégico nesse movimento. Formar talentos locais, estimular o empreendedorismo tecnológico e implementar políticas públicas que incentivem a criação de tecnologias de IA não são apenas metas — são necessidades. E nós sabemos fazer isso, e bem! (Né não, Prof. Pedro Pedrosa, do IFCE? Top 2% em IA global, referência internacional em soluções inteligentes).

Com visão e colaboração de seus líderes, o Ceará pode não só superar “o atraso nosso de cada d’IA”, mas também criar e exportar soluções inovadoras, contribuindo ativamente para o ecossistema digital brasileiro. E mais: tudo isso sob a perspectiva de uma sociedade mais Inteligente, Humana e Sustentável.
Por que não?

O futuro digital não precisa ser apenas consumido; ele pode e deve ser construído por nós. Quem sabe faz … AGORA!

Mauro Oliveira é professor IFCE (Dedicado ao querido Naza Albuquerque: “a palavra é o que nos resta”)

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Esse website utiliza cookies.

Leia mais