Com o título “Geração distribuída do hidrogênio”, eis artigo de Marília Brilhante, diretora da Energo Soluções em Energias. “O Brasil reúne condições singulares para esse modelo. A matriz elétrica majoritariamente renovável, aliada à queda do custo da energia solar e eólica, oferece base competitiva para a eletrólise em pequena e média escala. Além disso, a legislação de geração distribuída já abriu precedentes regulatórios que podem inspirar um arcabouço específico para o hidrogênio, estimulando consórcios locais de consumo e arranjos produtivos regionais”, expõe a articulista.
Confira:
Nos últimos anos, o hidrogênio verde tem se consolidado como peça-chave da transição energética global, com grandes projetos voltados à exportação e ao abastecimento de setores intensivos em energia. No entanto, um olhar estratégico sobre o consumo interno brasileiro revela uma oportunidade pouco explorada: a geração de hidrogênio em menor escala, voltada ao atendimento direto de indústrias de pequeno e médio porte. Essa lógica pode ser chamada de “geração distribuída do hidrogênio”, em paralelo ao modelo já consagrado da geração distribuída solar.
Enquanto os megaprojetos de hidrogênio miram mercados externos e cadeias logísticas complexas, a geração distribuída propõe descentralização, proximidade ao consumidor e redução de custos de transporte e armazenamento. Ao produzir o combustível no local ou em regiões industriais estratégicas, elimina-se a dependência de grandes dutos, caminhões criogênicos ou portos especializados. Isso pode democratizar o acesso ao hidrogênio, tornando-o viável não apenas para siderúrgicas e petroquímicas, mas também para setores como cerâmica, alimentos e bebidas, metalurgia e transportes regionais.
O Brasil reúne condições singulares para esse modelo. A matriz elétrica majoritariamente renovável, aliada à queda do custo da energia solar e eólica, oferece base competitiva para a eletrólise em pequena e média escala. Além disso, a legislação de geração distribuída já abriu precedentes regulatórios que podem inspirar um arcabouço específico para o hidrogênio, estimulando consórcios locais de consumo e arranjos produtivos regionais.
Ao invés de pensar apenas em hubs de exportação, o país pode fomentar polos descentralizados, conectados a clusters industriais, onde o hidrogênio verde funcione como insumo energético e matéria-prima para processos mais limpos. Trata-se de uma oportunidade de fortalecer a competitividade da indústria nacional, reduzir emissões e criar novos mercados. A “geração distribuída do hidrogênio” pode ser, portanto, a chave para tornar o hidrogênio verde acessível, prático e parte do cotidiano industrial brasileiro.
*Marília Brilhante
Diretora da Energo Soluções em Energias.