Com o título “Gestão Pública e Tecnologia: O Estado Ainda Está no Século Passado?”, eis artigo de Bruno Eloy, administrador com especializações em gestão executiva, regulação em saúde e controladoria e autor do livro O SUS e os Consórcios Públicos em Saúde. “Desejo que a tecnologia chegue à administração pública como chegou às nossas vidas: para facilitar, organizar e dar transparência. Quem sabe assim o Estado volte a priorizar sua verdadeira razão de existir: nós, cidadãos”, expõe o articulista.
Confira:
Em 1985, no filme De Volta para o Futuro, o ano do “futuro ideal”, era 2015. Pois bem, cá estamos em 2025, dez anos depois daquele “futuro do futuro”. Brincadeiras à parte, a reflexão que me leva a escrever este artigo é tentar entender a relação entre tecnologia e gestão pública.
O que me fez lembrar do filme foi, em muitas ocasiões, a impressão de que a administração pública vive no passado. Quando saímos das repartições, a vida pessoal parece estar no futuro. São dois mundos que coexistem em paralelo, conectando-se e desconectando-se todos os dias. Quase uma viagem no tempo.
Para ilustrar, basta citar a lei de licitações. Até dezembro de 2023, a norma que definia como a gestão pública brasileira adquire bens e serviços era de 1993! Ela foi revogada e substituída por uma nova lei sancionada em… 2021. Confuso, né? Mas é isso mesmo. O setor público é confuso, pouco eficiente e difícil de explicar em apenas um artigo.
Enquanto o mundo gira com carros híbridos ou elétricos, aplicativos de transporte, inteligência artificial, energia solar acessível, autoatendimento até em supermercados, carteiras digitais e transferências instantâneas via PIX, a administração pública continua, em muitos aspectos, analógica. Presa a normas que já não respondem às necessidades da população, da qual o próprio Estado faz parte.
Existem, sim, iniciativas que tentam aproximar esses dois mundos. Apesar da burocracia e da resistência a mudar o modus operandi de uma máquina tão pesada, alguns avanços merecem destaque.
No Ceará, por exemplo, foi instituída, em dezembro de 2022, a Política Estadual de Linguagem Simples. Um trecho da política é especialmente animador até para os mais céticos: “Estimular, na gestão pública cearense, uma mudança na cultura da comunicação administrativa, priorizando o foco nos cidadãos, entregando informações claras e compreensíveis.”
Depois de ler isso, confesso que me dá ânimo para imaginar um Estado mais ágil, simples, eficiente, conectado com o que há de mais moderno e, sobretudo, inovador e propositivo. Não é possível que estejamos comprando produtos ou contratando serviços com dois ou três cliques no celular e o Estado ainda não seja capaz de oferecer algo parecido, ou até melhor.
Desejo que a tecnologia chegue à administração pública como chegou às nossas vidas: para facilitar, organizar e dar transparência. Quem sabe assim o Estado volte a priorizar sua verdadeira razão de existir: nós, cidadãos.
Bruno Eloy é administrador com especializações em gestão executiva, regulação em saúde e controladoria e autor do livro “O SUS e os Consórcios Públicos em Saúde”