“É fundamental ressaltar que uma eventual aliança do PL com o PSDB, partido ao qual Ciro está filiado, não se dá no terreno ideológico, e sim no pragmático”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves
Confira:
Há um velho ditado popular sertanejo que se diz quando queremos expressar a crítica diante de uma ação que se queria bem intencionada, mas por inabilidade a coisa sai errada: pensou-se em fazer um giro, mas fez-se um jirau.
A direita brasileira vive, em razão do processo pré-eleitoral no Ceará, um momento de tensão estratégica que veio à tona após declarações extemporâneas feitas em Fortaleza contra a possibilidade de apoio do PL a uma eventual candidatura de Ciro Gomes ao governo do Estado. A manifestação, realizada em um evento de outro partido, foi politicamente inoportuna e produziu um constrangimento imediato a quem, de fato, detém a responsabilidade oficial de conduzir as articulações no Estado, o deputado federal André Fernandes.
A fala inesperada da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, além de desrespeitar o ambiente político no qual foi proferida, atropelou negociações delicadas, expôs aliados e criou ruído onde deveria haver construção. André Fernandes, que trabalha para consolidar uma frente capaz de competir com solidez, foi colocado numa situação pública desconfortável, assim como os que atuam ao seu lado nessa costura eleitoral.
Concorde-se ou não com suas posições históricas, é inquestionável que Ciro Gomes é, hoje, o nome com maior potencial para derrotar a esquerda no Ceará. Sua biografia política fala por si: ex-prefeito de Fortaleza, ex-governador do Estado, ex-ministro da República, articulador experiente, conhecedor das estruturas administrativas e das “manhas e artimanhas” dos antigos aliados petistas. Trata-se, portanto, de alguém que conhece o modus operandi do grupo que domina o Ceará há quase duas décadas e, justamente por isso, é capaz de enfrentá-lo com mais eficácia do que qualquer iniciante ou “outsider”.
É fundamental ressaltar que uma eventual aliança do PL com o PSDB, partido ao qual Ciro está filiado, não se dá no terreno ideológico, e sim no pragmático. Trata-se de uma articulação voltada, sobretudo, para construir uma chapa competitiva que permita à direita eleger um senador, cargo de enorme relevância nacional.
Nessa equação, desponta o nome do deputado estadual Alcides Fernandes, pastor evangélico e pai de André Fernandes, figura respeitada e de trânsito amplo no campo conservador. Uma aliança desse porte ampliaria a presença do PL no Estado e poderia reconfigurar o mapa político do Ceará.
A verdade é que, a preço de hoje, o senador Eduardo Girão não apresenta substância eleitoral para enfrentar a poderosa máquina petista. Seus apoiadores, embora bem-intencionados, demonstram um idealismo que ignora a complexidade das disputas majoritárias no Ceará.
A defesa cega por um nome sem densidade pode agradar a bolhas digitais, mas não elege governador e tampouco senador. Esse será, no fim das “démarches”, o ponto central que André Fernandes deverá levar à mesa do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. E Valdemar, político experiente, já percebeu que a candidatura de Ciro representa crescimento real, ou seja, mais deputados estaduais, mais deputados federais e, com grande probabilidade, um senador eleito pelo partido.
Não seria demais afirmar que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro cogitou fazer um giro político com Eduardo Girão. No entanto, a movimentação, em vez de fortalecer o aliado, acabou se tornando um verdadeiro jirau: barulhento, improvisado e sem resultado prático.
O que está em jogo não é simpatia pessoal, nem passado de divergências, nem pureza ideológica. O que está em jogo é vencer. E para vencer a hegemonia da esquerda no Ceará, será preciso abandonar ilusões e abraçar o caminho que apresenta viabilidade eleitoral concreta.
Nesse sentido, Ciro Gomes – paradoxal para alguns, estratégico para muitos – surge como o único nome capaz de liderar uma frente ampla de direita e centro-direita com chances reais de vitória. O resto é ruído. E ruído não derruba governos, mas pode, infelizmente, derrubar candidaturas.
Barros Alves é jornalista e poeta