“Governo americano e as eleições presidenciais de 2022” – Por João Arruda

João Arruda é sociólogo e professor aposentado da UFC. Foto: Arquivo Pessoal

“Sem um projeto de governo e mantendo uma gritante irresponsabilidade fiscal, o Brasil caminha perigosamente para o caos”, aponta o sociólogo João Arruda

Confira:

A vida política brasileira atravessa um momento de extrema perplexidade e incerteza no porvir. Às vésperas da chegada ao Brasil de Mike Benz – ex-assessor de Donald Trump e ex-funcionário do Departamento de Estado dos Estados Unidos, ao Brasil, convidado pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados (CREDEN) para falar sobre a interferência do governo americano nas eleições presidenciais brasileiras de 2022 -, o clima político-institucional no país se intensificou consideravelmente.

Com o objetivo de facilitar a compreensão dos brasileiros sobre como o governo americano teria atuado e financiado as eleições presidenciais no Brasil em 2022, Benz publicou, no dia 13 de maio, terça-feira, um vídeo nas redes sociais detalhando um organograma da suposta intervenção. Para quem ainda não o conhece, Benz é o assessor de Trump que revelou: “Se a USAID não tivesse intervindo na sucessão presidencial brasileira, Bolsonaro ainda seria o presidente do Brasil.”

Segundo denúncia de Benz, a USAID — agência norte-americana de “cooperação internacional” — teria investido cerca de 150 milhões de dólares para estruturar uma ampla rede de combate à chamada “desinformação”. Ele batizou essa estrutura de Complexo Industrial da Censura, que, na prática, teria atuado como braço censor e narrativo contra o então presidente Jair Bolsonaro. Documentos que serão apresentados por Benz apontam que autoridades brasileiras ligadas ao TSE, universidades, a FGV, ONGs, veículos de imprensa e centenas de influenciadores digitais teriam recebido recursos e orientações com o objetivo de moldar o ambiente eleitoral brasileiro de acordo com os interesses estratégicos do sistema globalista de Washington.

Nesse cenário tenso, novas evidências continuam a surgir, aprofundando as suspeitas sobre o grau de ingerência estrangeira nas eleições presidenciais de 2022.

Entre os episódios mais controversos, destaca-se a declaração feita por Luiz Roberto Barroso, presidente do STF, nesta terça-feira (13), durante um evento promovido pelo LIDE, em Nova York. Em uma confissão pública considerada desastrosa, Barroso afirmou que, enquanto presidia o TSE, solicitou insistentemente ao governo americano que interferisse no processo eleitoral brasileiro para impedir o que chamou de “golpe bolsonarista”. A declaração pode ter marcado o início de uma nova crise política de proporções imprevisíveis.

Mas Barroso é useiro e vizeiro em alardear o seu ativismo político. Em 21 de agosto de 2021, nos corredores da Câmara dos Deputados, ele declarou: “Eleição não se ganha, toma-se.” Em fevereiro de 2022, participou de um evento na Faculdade de Direito da Universidade do Texas intitulado “Os Meios Adequados para Destituir um Presidente do Cargo”. Em 13 de junho de 2023, durante um congresso da UNE, afirmou enfaticamente: “Nós ajudamos a derrotar o bolsonarismo.” Mas Barroso não foi o único ministro a revelar o ativismo do Judiciário. Em 14 de outubro de 2023, Gilmar Mendes declarou que “a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 se deveu a uma decisão da Corte.”

Tais afirmações, vindas de autoridades do sistema judicial, não podem ser tratadas com normalidade. Elas revelam um grau de articulação entre o Judiciário brasileiro e potências estrangeiras que compromete a nossa soberania e a integridade do processo democrático nacional.

Juristas como o constitucionalista André Marsiglia classificaram a fala de Barroso como de extrema gravidade, apontando-a como “um atentado direto à soberania nacional”. Ainda segundo ele, “pela Constituição Federal, nem o STF nem o TSE possuem competência para articular qualquer forma de intervenção estrangeira em assuntos internos do país, atribuição que cabe exclusivamente ao Poder Executivo”.

A repercussão da fala de Barroso foi imediata. Ministros do STF demonstraram desconforto com a confissão, considerada inapropriada. No Congresso Nacional, deputados e senadores da oposição e do centrão condenaram a confissão, classificando-a como uma violação inaceitável da soberania brasileira. Diante da gravidade do episódio, a oposição intensificou os esforços para garantir a instalação da CPI sobre Interferência Estrangeira nas Eleições, já protocolada na Câmara dos Deputados.

Hoje, não é mais segredo que figuras centrais da política e da inteligência norte-americana estiveram ativamente envolvidas em reuniões com autoridades brasileiras às vésperas das eleições. O diretor da CIA, William Burns, esteve no Brasil tratando do tema. O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, também. Victoria Nuland, notória por sua atuação em intervenções internacionais, visitou o país pouco antes da votação.

A General Laura Richardson, chefe do Comando Sul dos EUA, esteve no Brasil em setembro de 2021 e em novembro de 2022. Segundo o Financial Times, sua missão incluía dissuadir os militares brasileiros de contestarem os resultados das eleições, inclusive com ameaças de romper acordos militares e suspender treinamentos conjuntos. Douglas Koneff, chefe da embaixada dos EUA no Brasil, reuniu-se com os principais candidatos — Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet — para manifestar apoio ao sistema eleitoral brasileiro.

Essas não foram simples visitas protocolares. Segundo veículos como o Financial Times, o objetivo central desses encontros era garantir que as Forças Armadas brasileiras não apoiassem qualquer contestação ao resultado eleitoral.

Outro nome citado recentemente é o do ex-vice-presidente e atual senador Hamilton Mourão. Ele é acusado de ter tido um papel discreto, porém decisivo, nos bastidores do processo. Em 20 e 21 de julho de 2022, Mourão esteve oficialmente em Nova York. O site Poder360 relatou que o ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA, Tom Shannon, afirmou ao Financial Times que Mourão teria manifestado preocupação com a situação política brasileira. Mourão, por sua vez, nega ter se encontrado com Shannon.

O quadro político brasileiro é desesperador. Lula derrete rapidamente sob o peso de sucessivos escândalos de corrupção; o centrão iniciou o seu desembarque do governo e a grande mídia, com destaque para a rede globo, começou a lhe negar apoio irrestrito. Sem um projeto de governo e mantendo uma gritante irresponsabilidade fiscal, o Brasil caminha perigosamente para o caos.

Para desespero do PT e de seus puxadinhos – Psol, PSB, PCdoB PDT – o Establishment nacional começa a dar sinais de cansaço com o governo que ajudou a eleger. É hora de olharmos com seriedade para os fatos, superar as distorções e exigir transparência, bem como respeito aos limites entre os Poderes. A democracia não pode ser protegida com censura do judiciário, nem fortalecida com tutela estrangeira. A soberania nacional não é negociável — muito menos exportável.

João Arruda é sociólogo e professor aposentado da UFC

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Uma resposta

  1. Muito interessante essa conversa cirúrgica do Professor João!! Isso é algo que ainda vai impactar muito no futuro do Brasil!!

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