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“Governo Lula em rápido processo de derretimento”

João Arruda é sociólogo e professor aposentado da UFC. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Governo Lula em rápido processo de derretimento”, eis artigo de João Arruda, professor aposentado da Universidade Federal do Ceará. Ele aborda o atual momento do goveno do PT. Confira:

Quem acompanha o dia a dia da política nacional percebe, com certa facilidade, que estamos atravessando uma conjuntura política extremamente explosiva. Os poderes executivo, legislativo e judiciário se digladiam entre si, e o judiciário, com a cumplicidade do governo Lula e dos partidos de esquerda, reivindica o direito de legislar e de adaptar a constituição aos seus interesses corporativos, exigindo o protagonismo que a constituição não permite.

Paralelo a esse imbróglio entre os poderes, há fatos políticos muito graves e inéditos acontecendo na dinâmica política brasileira. Vejam bem, com menos de um ano de mandato na presidência da República e sem apresentar qualquer ação de relevância em seu governo, a não ser uma percepção dos brasileiros de que está havendo uma gastança irresponsável do dinheiro público e a corrupção dando os primeiros sinais de retorno, o governo Lula começa a derreter a uma velocidade jamais imaginada. E isso não é nada bom para o projeto político do presidente, do establishment que o elegeu e da esclerosada e anacrônica esquerda brasileira.

Não acredito que a história se repete, mas não podemos esquecer que os fatos sócio-históricos obedecem a certas regularidades, e esse é um pressuposto universalmente aceito. No Brasil há um consenso entre os analistas e os estudiosos da ciência política de que nenhum governo sobrevive a uma conjuntura sociopolítica se três fatores se manifestarem concomitantemente: a falta de apoio popular, a ausência de uma base parlamentar que lhe garanta um mínimo de governabilidade e uma economia com viés recessivo. Seguindo eles acreditam, se esses elementos ocorrerem simultaneamente, o governante de plantão estará com os seus dias contados.

Hoje, o indecifrável governo do presidente Lula se enquadra perfeitamente nesse quadro, e o seu vice, Geraldo Alckmin, velha raposa da política brasileira, continua estranhamente calado. Depois de ser humilhado publicamente pela intromissão da primeira dama, que teima, com a conivência do Lula, em assumir ilegalmente o papel do vice, ele começa a se preparar para assumir o governo em caso de vacância. Não podemos esquecer que nos governos Collor de Melo e de Dilma Rousseff houve a junção desses três fatores, resultando noimpeachment de ambos.

Sobre o primeiro item dessa conjuntura fatídica – a falta de apoio popular -, é notório o crescente desprezo da população ao presidente Lula e ao establishment que lhe dá sustentação. Ele, há muito, não consegue sair em público, pois certamente será vaiado ou agredido verbalmente, como vem acontecendo repetidas vezes em que ousou sair em público. No Nordeste, região que garantiu sua eleição, a sua aceitação chegou ao nível mínimo. Após prometer aos nordestinos que eles passariam a comer picanha e as suas vidas melhorariam em seu governo, a situação caminhou na direção inversa: o governo Lula paralisou a sonhada transposição das águas do São Francisco e, achando pouco, cortou mais de 2,9 milhões de famílias cadastradas no programa Bolsa Família. Para piorar a situação, por falta de repasses do Fundo de Participação dos Municípios, FPM, as prefeituras entraram em colapso, deixando de oferecer os serviços básicos essenciais demandados pelos seus munícipes. Esse fato gerou protestos e os prefeitos chegaram a deflagrar greves, fato inédito em nossa história.

Nas demais regiões do país, esse sentimento de rejeição não é diferente. As manifestações que levaram centenas de milhares de brasileiros à Avenida Paulista nesse domingo, dia 26, protestando contra o abuso do judiciário e contra o governo Lula, comprovam que a tolerância do povo parece ter chegado ao limite. Em comprovação desses fatos, as seguidas pesquisas de opinião vêm registrando o derretimento do governo Lula em todo o território nacional. A última pesquisa realizada pelo Instituto Atlas mostra que 45% dos brasileiros consideram o seu governo ruim/péssimo.

Sobre o segundo item da conjuntura – falta de apoio parlamentar como garantia da governabilidade -, a situação é muito grave, estando o governo refém dos interesses inconfessos do Artur Lira e seus apaniguados. No Senado, o presidente Pacheco chutou o balde e passou a peitar o Judiciário. Nesse quadro político desfavorável, o presidente Lula tem tido sucessivas derrotas, tendo que despejar alguns bilhões de reais do povo brasileiro nas mãos dos parlamentares do centrão sempre que necessita aprovar algum projeto do seu interesse. A história nos ensina que esses parlamentares fisiológicos, quando perceberem os clamores das ruas e o derretimento do governo, agirão como ratos de navio: são os primeiros a pular fora, ajudando a deposição do presidente.

Em relação a economia, terceira variável da equação, a situação é mais desesperadora. O ministro Haddad não consegue avançar no seu atrapalhado projeto econômico e, para piorar o quadro, foi desautorizado publicamente pelo presidente, atitude que fez o sistema financeiro entrar em pânico. O Brasil já entrou em uma recessão técnica e os investimentos estrangeiros começam a retornar às origens. O deficit fiscal tem viés de alta, com previsão de chegarmos ao final de 2023 com um rombo na casa dos 200 bilhões de reais. Nos últimos quatro meses, mesmo com investimentos insignificantes e com aumento dos impostos, as despesas governamentais superaram as arrecadações, sinalizando o aumento da dívida interna e da retomada da inflação. O aumento do desemprego começa a dar sinais de crescimento. Levantamento da empresa de contabilidade Contabilizei, realizado com base em dados da Receita Federal, constatou que nos seis primeiros meses de 2023, o Brasil “perdeu” um total de 427.934 empresas, entre micro, médio e grande porte.

No plano internacional, o quadro é ainda mais desesperador para o presidente Lula. Apos uma infinidade de declarações desastrosas e contraditórias sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, defendendo veladamente e Rússia, os países membros da OTAN reagiram com indignação. Mas essa indignação aumentou exponencialmente quando Lula desconheceu o legítimo direito de defesa de Israel e o nivelou por baixo, qualificando o Estado de Israel e o grupo terrorista do Hamas como terroristas e genocidas. Essas declarações sepultaram a fantasia de Lula de receber o título de Nobel da Paz e o transformou em um anão na diplomacia internacional.

*João Aruda

Professor aposentado da Universidade Federal do Ceará.

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Respostas de 2

  1. Sensato e objetivo o artigo. Devendo se ressaltar ser o professor um militante da esquerda.

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