“Guerra nas redes sociais”

Com o título “Guerra nas redes sociais”, eis artigo de Fátima Vilanova, doutora em Sociologia. “Para aparecer está valendo tudo: agredir, difamar, postar informações falsas, odiar”, diz.

Confira:

Deu a louca nas redes sociais. Para aparecer está valendo tudo: agredir, difamar, postar informações falsas, odiar. Por incrível que pareça, o engajamento pelo ódio gera elevação das visualizações de posts, dos compartilhamentos, do número de seguidores. A civilidade, boa educação, respeito aos direitos do outro, compromisso com a verdade não dão audiência. Por que será que isto está acontecendo?

Temos que nos fazer estas perguntas: todos estão mal-humorados, por quê? Será por causa da política, da decepção com os políticos, do cansaço coletivo em face da realidade aquém das expectativas de cada um, da sensação de injustiça? Os exemplos dos que estão no topo da pirâmide social estão decepcionando os a base, que não vislumbram saída no fim do túnel? Isto merece uma boa reflexão.

A máxima de fazer justiça com as próprias mãos, típico de sociedades primitivas, onde não existe lei, ou nos tempos atuais, porque, talvez, não se acredita nela, está fortemente presente nas redes sociais. Assistimos à completa selvageria de todos contra todos, à negação do valor supremo da democracia, que é a convivência pacífica com as diferenças, pelo exercício do saber ouvir, dialogar, buscar consenso, para a efetivação da justiça, do bem comum, do respeito aos direitos de todos.

Penso que as raízes das agressões nas redes sociais remetem à frustração coletiva com a política e com os políticos profissionais, que se perpetuam, sem interlocução e compromisso com a sociedade. O caminho do enfrentamento desrespeitoso, todavia, não trará nada melhor do que está posto. Fora do respeito às leis por todos, não há caminho possível. Urge, mais do que nunca, discutir os problemas do Brasil, os caminhos a seguir para equacioná-los, aperfeiçoando-se a democracia, e não confrontando seus pilares.

E quando, neste caldeirão, aparecem personagens narcisistas, arrogantes, autoritários, beirando a insanidade, pela agressão às instituições e às leis, o desastre está completo. É o que assistimos no momento no Brasil. O dono da própria rede social X, Elon Musk, faz o papel de incendiário, confrontando o ministro do STF, Alexandre de Moraes, descumprindo ordens judiciais de retirada do ar de postagens consideradas ofensivas às leis brasileiras.

A situação é delicada. A liberdade de expressão, defendida como fundamental numa democracia, não está sendo exercida com a observância das leis, o que é cobrado pelo STF, e Musk dá de ombros. O momento é grave, requer equilíbrio, serenidade das autoridades brasileiras no enfrentamento da questão.

Pontos importantes do processo, no entanto, estão sendo questionados por especialistas. A citação de Elon Musk na própria rede social X, e não por carta rogatória, bem como a retirada do ar da rede social X, e o congelamento das finanças da Starlink, para pagamento de multas são controversos. O impedimento do acesso de usuários da rede X por vpn, com cobrança de multa, também é criticado.

Estas questões precisam ser debatidas pelo Pleno do STF, de modo a não restarem dúvidas sobre seu acerto, para que não configurem abuso de poder. Tudo que a sociedade brasileira espera é o cumprimento do devido processo legal, respeitando os trâmites consagrados na legislação.

*Fátima Vilanova

Doutora em Sociologia.