“Em tempos de polarizações intensas, torna-se ainda mais necessário cultivar o espírito crítico e a prudência”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves
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Há momentos em que determinadas pessoas, movidas por um fervor de proselitismo político ou religioso, deixam-se conduzir mais pelas paixões do que pela razão. Nesses casos, o zelo por uma causa, ainda que legítima em sua origem, transforma-se em filtro distorcido através do qual passam a julgar pessoas e acontecimentos. Assim, valorações apressadas são feitas sem que haja a devida ponderação, sem a busca serena dos fatos ou a análise imparcial das circunstâncias.
Quando a convicção se sobrepõe ao exame crítico, o julgamento perde seu caráter de justiça e se torna instrumento de exclusão e intolerância. Pessoas são classificadas não pelo que são ou fazem, mas pelo que representam para determinado ponto de vista. Fatos são interpretados não como realmente ocorreram, mas conforme a narrativa que se deseja sustentar.
Esse tipo de postura empobrece o diálogo, fragiliza a convivência e compromete a verdade. A sociedade, para amadurecer, necessita de indivíduos capazes de escutar, refletir e compreender antes de emitir juízos definitivos. É na imparcialidade, na honestidade intelectual e no respeito às diferenças que se encontra o caminho para relações humanas mais justas e para uma convivência mais harmoniosa.
Em tempos de polarizações intensas, torna-se ainda mais necessário cultivar o espírito crítico e a prudência. Somente assim poderemos formar opiniões sólidas, equilibradas e verdadeiramente livres, não baseadas em paixões momentâneas, mas na busca sincera pela verdade e pela compreensão mútua.
A ninguém é dado desconhecer minhas posições diametralmente opostas ao esquerdismo que tem adoentado algumas atitudes político-partidárias, em especial nos parlamentos onde, por imposição democrática o diálogo deve se sobrelevar nos embates cotidianos. Nos meus 46 anos de Assembleia Legislativa, onde prestei assessoria política e técnico- legislativa a mais de uma dezena de deputados, aprendi a discordar com firmeza dos aliados e concordar com tolerância para com os contrários, sem transformar assessoria em puxa-saquismo ou adversários em inimigos. Para mim não existe essa história de inimigos de classe. Isso é uma grande fake news ideológica, insensata e politicamente estéril.
As observações antecedentes intentam dar sustentabilidade às que seguem e que dão conta do comportamento do deputado Guilherme Sampaio, de quem sou contraditor no campo ideológico. O equilíbrio demonstrado pelo líder do governo Elmano de Freitas na Assembleia Legislativa do Ceará merece registro e reconhecimento. Em um cenário em que a atual gestão estadual não figura entre as mais eficientes, deixando de atender plenamente às demandas da sociedade e acumulando promessas de campanha ainda não cumpridas, sobressai a postura serena, articulada e habilidosa de seu líder no Parlamento.
É precisamente diante dessas fragilidades do Executivo que se evidencia, de forma ainda mais contundente, a capacidade de articulação política do líder governista. Com firmeza sem estridência, e convicção sem intransigência, ele tem conseguido conduzir debates, construir pontes e sustentar o diálogo mesmo quando a crítica é dura e o ambiente parlamentar se mostra adverso.
A oposição, aguerrida e bem preparada, se apresenta diariamente disposta ao embate na tribuna, munida de argumentos sólidos e vigilante diante das omissões e insuficiências da administração. Nesse contexto, não é menor o mérito daquele que, em nome do governo, enfrenta o debate com compostura, inteligência política e capacidade de ouvir, respondendo com o rigor institucional que o cargo exige.
Assim, o equilíbrio do líder Guilherme Sampaio, mais do que uma virtude pessoal, revela-se um dos poucos pontos de estabilidade na interlocução entre o Executivo e o Legislativo. Seu desempenho confirma que, mesmo quando a gestão não alcança os resultados esperados, a política exercida com maturidade ainda é capaz de preservar o diálogo, a convivência democrática e a responsabilidade institucional.
Barros Alves é jornalista e poeta