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“Herança política já não basta na reeleição”

Flamínio Araripe é jornalista

Com o título “Herança política já não basta na reeleição”, eis artigo de Flamínio Araripe, jornalista e pesquisador.

Confira:
A morte de dois líderes políticos brasileiros – Tancredo Neves, em 1985 e Eduardo Campos, em 2014 -, foi acompanhada por grande comoção social. O Brasil, um povo sentimental, não desiste de ter esperança. Os dois trágicos acontecimentos ficaram gravados na memória política do país.

Tancredo Neves, eleito presidente pelo sistema indireto, o primeiro civil que iria governar o Brasil após 21 anos de ditadura militar, morreu no dia 21 de abril de 1985, depois de um período em internamento hospitalar. Políticos e médicos esconderam a gravidade da doença que acabou por levá-lo a óbito. Assumiu o governo o vice-presidente José Sarney.

Antônio Britto e Aécio Neves.

Durante 38 dias da hospitalização de Tancredo Neves, o país acompanhou pela TV o teatro montado no Hospital de Base de Brasília e depois no Hospital das Clínicas de São Paulo, para onde foi transferido no dia 26 de março. Jornalista gaúcho, Antônio Britto, porta-voz de Trancredo Neves, ganhou notoriedade nacional com a leitura quase diária dos boletins médicos sobre o estado de saúde de Tancredo, que o país acompanhava com emoção.

Morto Tancredo, seu corpo foi acompanhado por multidão estimada de 2 milhões de pessoas. Na esteira do sucesso, com a construção da imagem associada a Tancredo Neves, Antônio Britto iniciou uma trajetória política. Foi eleito deputado federal pelo Rio Grande do Sul, governador do estado e ministro da Previdência Social.

O sobrinho do político mineiro falecido, Aécio Neves, por sua vez, com status de herdeiro político e neto de Tancredo Neves, exerceu quatro mandatos de deputado federal, governador de Minas Gerais – reeleito, senador, candidato à presidência da República em 2014 e deputado federal reeleito em 2018 e 2022, hoje no exercício do mandato.

Aécio Neves na sua carreira política não respeitou o legado do avô nem a esperança do povo. Mesmo assim, Minas Gerais não o deixou sem mandato eletivo, apesar das denúncias de corrupção que diminuíram sua biografia.

Eduardo Campos

Eduardo Campos, um político brilhante, iniciou a carreira como chefe de Gabinete do governador de Pernambuco, Miguel Arraes, seu avô. Foi deputado estadual pelo PSB e deputado federal por três mandatos, ministro da Ciência e Tecnologia e governador do estado por dois mandatos. Faleceu em acidente aéreo de 13 de agosto de 2014, que interrompeu a campanha da sua candidatura a presidente da República.

João Campos

Não foi apenas por ser filho de Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes que o prefeito de Recife, João Campos, foi reeleito, já no primeiro turno das eleições de 2024, com 78,11% dos votos. As urnas revelam como é avaliado o resultado da gestão do município, o trabalho realizado no dia a dia, a disposição para ouvir a população antes de direcionar os investimentos em infraestrutura e serviços.

João Campos explica o seu estilo de administração, como pensa, no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, disponível no You Tube. Na entrevista, mostra o perfil de um político diferenciado, que não muda de cara para vender imagem no período eleitoral, tem ideias próprias e uma boa leitura da realidade e da literatura.

Jovem engenheiro de 30 anos, João Campos não se encaixa na falta de comunicação com os jovens e de presença massiva em redes sociais, apontados como fragilidades da esquerda nas eleições deste ano. No Instagram, tem 2,7 milhões de seguidores – dos quais 45 mil em Fortaleza – e fala a linguagem dos jovens, não por oportunismo, mas por expressão natural.

O prefeito não titubeia ao ser perguntado sobre livros que influenciaram na sua formação. Fala primeiro que leu, antes dos autores ganharem o prêmio Nobel de Economia em 2024, o livro “Por que as nações fracassam – As origens do poder, da prosperidade e da pobreza”, de Daron Acemoglu e James A. Robinson. A obra demonstra o papel fundamental das instituições na formação e no desenvolvimento das nações.

Comenta que também leu “Utopia para realistas – Como construir um mundo melhor”, de Rutger Bregman, que discute ideias inovadoras como Rede Básica Universal, políticas públicas para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Em seguida, João Campos cita um autor cearense, Lira Neto, de quem leu os três volumes da trilogia “Getúlio “, pela importância da obra na construção de sua compreensão sobre o Brasil, da história política recente e das instituições.

*Flamínio Araripe

Jornalista e pesquisador.

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