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“Homenagem a Benedito de Paula Bizerril, in memoriam” – Por Pedro Albuquerque

“Há pouco mais de um mês, com teu jeito afetuoso, arrancaste-me do retraimento para participar de um debate online sobre a conjuntura nacional, que coordenaste com firmeza e delicadeza”, aponta o advogado e sociólogo Pedro Albuquerque

Confira:

Bené, querido amigo

Bené, tua alma sempre foi gentil, intrinsecamente solidária. Fomos colegas na Faculdade de Direito, companheiros de PC do B na militância contra a ditadura. E em cada gesto, em cada luta, deixaste uma marca de coragem e ternura.

No movimento sindical bancário, destacaste-te com brilho: foste uma das lideranças da mais importante greve daqueles tempos sombrios, e mais tarde, na advocacia trabalhista, tua dedicação generosa e combativa em defesa dos direitos dos trabalhadores tornou-te referência, lado a lado com nosso inesquecível Tarcísio Leitão.

Há pouco mais de um mês, com teu jeito afetuoso, arrancaste-me do retraimento para participar de um debate online sobre a conjuntura nacional, que coordenaste com firmeza e delicadeza. Parecias bem — sereno, lúcido, cheio de energia e esperança. Não sabia que estavas enfermo. Soube há dois dias, pelo querido Gil Sá, de forma casual. Mas dizem que o câncer de pâncreas é traiçoeiro, silencioso, invisível.

No caso do nosso amigo Messias Pontes, a sobrevida foi de seis meses. No teu, tudo foi rápido demais. Talvez o silêncio da doença tenha camuflado os sintomas, confundindo o tempo e o corpo.

Imagino, Bené, o que sentiste ao receber um diagnóstico tão dilacerante: a despedida de tua família, dos amigos, da militância de mais de seis décadas, do Brasil que tanto amaste e porque lutaste com fé e denodo. Não consigo parar de pensar nisso. Sinto dores por ti — e por nós, que ficamos sem tua presença.

Dizer do legado de quem parte é um precioso e necessário enlevo ao coração e à história, mas não é disso que preciso. Não quero ter de falar do legado de um amigo, porque isso significa tê-lo perdido. Não quero enterrar amigos para celebrar memórias. O que quero — o que o amor em mim reclama — é o amigo vivo, mesmo que os encontros sejam poucos.

Teu legado será lembrado, amado e honrado por todos, especialmente por tua família, em sentimentos e ações. Mas, no íntimo, Bené, o que desejo é o impossível que só o amor possibilita: ter-te vivo entre nós, com teu riso, tua presença, tua ternura e tua luta.

Teu amigo e companheiro, Pedro Albuquerque

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Ver comentários (1)

  • Bom dia, Pedro!
    Como colega de turma afirmo que seu testemunho reflete, com absoluta fidelidade, o perfil do Bené! "Coragem e ternura" dizem bem do seu caráter e personalidade. Lembro que numa das confraternizações da T-1970 num buffet da cidade ao cumprimentar os colega eu os citava nominalmente. Eis que o Bené 'cochichou' ao meu ouvido: "Irapuan, eu admiro a forma como você se refere a cada colega. Infelizmente eu não consigo memorizar a muitos pelas sequelas que carrego resultante da tortura a que fui submetido quando da ditadura militar. Guardo vivo na mente e no coração a lembrança sua declaração!

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