É de suma importância que seja devidamente conhecida a estrutura de capital do seu negócio, e dentro desta, vamos procurar entender neste artigo, o item referente ao capital de terceiros, pois aí se encontra o endividamento. É normal se contratar capital de terceiros para tocar a operacionalidade do negócio (seja abrindo novas filiais ou até expandir a produção), mas é muito necessário se estar medindo o nível deste endividamento, por meio de indicadores, para que possamos evitar futuros problemas.
Um endividamento descontrolado causa uma série de danos tanto à continuidade do negócio, quanto ao próprio bem-estar do executivos. Pesquisas realizadas pela Serasa, demonstram que, pelo menos 88% dos brasileiros já sentiram constrangimento em ficarem devedores, e outros 85% informaram apresentar dificuldades para dormir em função de estarem endividados.
Por todos estes motivos acima, é muito importante que o departamento financeiro da empresa, precisa ficar atento para não permitir que a alavancagem prejudique a operação e corroa o lucro. Um volume de endividamento, principalmente no curto prazo, fora de proporções poderá provocar a insolvência da empresa.
Indicadores de endividamento
São índices que proporcionam, conhecer o nível de dívidas de uma organização, indicando se essa dívida está em um patamar seguro ou arriscado.
Como já informado, é natural que as empresas captem dinheiro emprestado de terceiros para operacionalizar o seu negócio, podendo ser eles:
· Bancos e instituições de crédito;
· Fornecedores;
· Investidores.
Investidores e bancos ao emprestarem dinheiro para uma empresa querem em contrapartida ganhar uma rentabilidade sobre esse empréstimo. Quanto aos fornecedores, estes emprestam capital por meio do prazo concedido para o pagamento.
Tipos de endividamento
A empresa pode se endividar junto a terceiros, ou seja, fornecedores, bancos e investidores de duas formas:
· Curto prazo;
· Longo prazo.
Curto prazo é aquele cujo pagamento precisa ser realizado em um período inferior a 12 meses, já o endividamento de longo prazo é aquele cujo pagamento da dívida é feito em um período superior a esse.
De uma forma ampla é possível notar que o endividamento de longo prazo provoca menos danos ao caixa da empresa do que o endividamento de curto prazo. Dentre os exemplos de endividamento de longo prazo estão:
· Financiamento de imóveis;
· Capital de giro parcelado superior a 12 meses;
· Financiamento de maquinários;
· Financiamento de veículos.
Alguns exemplos de endividamento de curto prazo podemos citar:
· Antecipação de recebíveis;
· Prazo dado por fornecedores;
· Empréstimos com pagamento inferior a 12 meses.
Importante procurar se evitar o endividamento de curto prazo, a não ser o prazo dado por fornecedores que não acarreta juros quando pago rigorosamente em dia.
Tipos de indicadores de endividamento
1 – Participação de Capitais de Terceiro (PCT)
Demonstra o quanto de recursos da organização provém de capital de terceiros.
Fórmula:
· PCT = (Passivo Circulante + Exígivel de longo prazo) / (Passivo Circulante + Exigível a longo prazo + Patrimônio Líquido)
Nesse caso, o passivo circulante representa o endividamento de curto prazo e o exigível de longo prazo o endividamento de longo prazo. Já o patrimônio líquido representa o capital próprio da empresa.
Portanto, quanto maior for o PCT, maior será o grau de endividamento da empresa, o que representa maior vulnerabilidade diante dos imprevistos do mercado. Quando o PCT supera 1, a empresa fica insolvente.
2 – Composição do endividamento (CE)
Revela o quanto a dívida da empresa está concentrada no curto prazo. Quanto maior for essa concentração, mais dificuldades a empresa pode enfrentar para cumprir seus compromissos.
Entretanto, quanto menor for a concentração da dívida no curto prazo, melhor será o fluxo de caixa da empresa que poderá ter mais tempo para agir diante de uma turbulência do mercado. Fórmula:
· CE = Passivo Circulante / (Passivo Circulante + Exigível de Longo Prazo)
Nesse contexto, quanto maior for o CE, mais concentrada no curto prazo a dívida da empresa estará e maior será o risco de insolvência.
Importante ressaltar que a antecipação de recebíveis, que consiste em trazer para o valor presente o recebimento de títulos com prazos de vencimento de 30, 60 e 90 dias pagando juros, é extremamente onerosa para a empresa, que deve evitar esse recurso ao máximo.
3 – Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL)
Demonstra como está a situação da estrutura do capital da empresa. Quando a companhia imobiliza demais o seu patrimônio, menos recursos próprios se tornam disponíveis.
Nesse caso a empresa se torna mais dependente do capital de terceiros para poder financiar o seu ativo circulante que normalmente é composto por:
· Estoques;
· Caixa;
· Contas a receber.
Fórmula:
· IPL = Imobilizado / Patrimônio Líquido
Imobilizado: ativo permanente da empresa que pode ser os maquinários, veículos, imóveis e terrenos que ela possui. Nesse sentido, quanto maior for o IPL, maior será o capital imobilizado em relação ao patrimônio líquido.
Ou seja, na medida em que o IPL vai crescendo, a insolvência da empresa também crescerá. É preciso não confundir o crescimento do IPL com o crescimento do capital imobilizado por si só.
Pois, quando o capital imobilizado cresce, mas o patrimônio líquido cresce na mesma proporção, o IPL se mantém, e a empresa não se torna menos insolvente.
Porém, quando o capital imobilizado cresce e o patrimônio líquido se mantém, o IPL cresce, mostrando que a empresa está tirando capital do ativo circulante e alocando ele no ativo imobilizado gerando mais risco de insolvência.
4 – Imobilização dos Recursos a Longo Prazo (IRPL)
Demonstra o quanto de recursos de longo prazo e do patrimônio líquido a empresa aplica no seu capital imobilizado.
É um indicador que também mostra como está a estrutura de capital da empresa. Nesse sentido, é possível compreender quanto foi aplicado em ativos imobilizados em relação às dívidas de longo prazo e ao patrimônio líquido.
Fórmula:
· IRPL = Imobilizado / (Exigíveis de Longo Prazo + Patrimônio Líquido)
Quanto maior for esse indicador, maiores serão as chances da empresa ter problemas para conseguir honrar com seus compromissos.
Importante salientar, que o ideal para fins didáticos é que o valor Imobilizado seja igual ou inferior ao valor do exigível de longo prazo. Isso mostra que esse patrimônio está sendo financiado com dívidas de longo prazo e não está saindo do patrimônio da empresa.
Quando o ativo imobilizado é superior ao exigível de longo prazo, ele não está somente sendo financiado por dívidas de longo prazo, como também pelo capital da empresa que poderia estar aplicado no circulante para garantir mais liquidez dos seus pagamentos.
5 – Índice de Endividamento Geral (EG)
Representa a proporção do endividamento em comparação ao ativo total do negócio. Demonstra o grau de alavancagem da organização.
Quanto maior seu valor, mais endividada uma empresa estará. No entanto, ele precisa ser acompanhado dos indicadores anteriores, principalmente do CE, pois, por si só, ele pode indicar um bom grau de endividamento, mas a dívida estar concentrada no curto prazo e depredando a liquidez da empresa.
Fórmula:
· EG = (Capital de terceiros / Ativos totais) x 100
Não há um valor exato para determinar qual é um bom grau de endividamento do EG, uma vez que tudo depende da estrutura desse endividamento. No entanto, quando ele supera 100%, a empresa corre o risco de insolvência.
Para que o EG esteja em um bom grau de alavancagem é preciso que o capital de terceiros seja inferior aos ativos totais da organização.
6 – Índice de Endividamento Financeiro (EF)
Demonstra a relação entre o valor que a empresa está devendo para terceiros e o valor que foi investido pelos acionistas.
Fórmula:
· EF = (Dívida Bruta / Patrimônio Líquido) x 100
A diferença do endividamento financeiro para o endividamento geral é que ele avalia a relação da dívida em relação ao patrimônio líquido que é o capital próprio que a empresa possui.
O endividamento geral representa o percentual da dívida sobre todos os ativos da empresa que foram adquiridos tanto com capital próprio quanto com capital de terceiros.
Quando o EG supera 100% é mais preocupante do que quando o EF supera 100%, embora os dois casos não sejam aconselhados.
Em linhas gerais, quanto maior for o EF, maior será a dívida em relação ao capital próprio da empresa, e mais alavancada ela estará. Em caso de turbulência no mercado, um alto grau de alavancagem pode levar a empresa à insolvência.
Fabiano Mapurunga é Mestre em Administração de Empresas com ênfase em Finanças pela Unifor, Pós-Graduado em Gestão de Negócios pelo INSPER, MBA em Gestão Financeira e Controladoria pela FGV, MBA em Agronegócios pela USP/ Esalq e Graduado em Administração de Empresas pela UFC. Possui experiência de 23 anos na área de Finanças Corporativas. Atualmente trabalha com inovação e consultoria financeira para empresas nacionais, além de se dedicar a novos negócios e investimentos. É professor universitário em cursos de Pós Graduação e autor de vários artigos.
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