“João Almino” – Por Tereza Porto

João Almino dá autografos de suas obras e recebe comenda na ACL. Foto: ABL

O escritor João Almino ganhou homenagem, nesta noite de quinta-feira, em Fortaleza. Foi na sede da Academia Cearense de Letras, em Fortaleza onde recebeu a comenda do Centenário de Rachel de Queiroz.

A escritora Tereza Porto, em artigo, reforça as homenagens ao imortal da Academia Brasileira de Letras, que também veio lançar a Revista Brasileira, da ABL, que, em sua nova edição, homenageia a cearense Rachel de Queiroz.

“O caráter dualista de sua obra, em que os opostos estão sempre em confronto, mostra a natureza dialética de sua prosa narrativa”, aponta a escritora Tereza Porto.

Confira:

Dentre os valores da atual literatura brasileira, um nome se destaca: João Almino de Souza Filho, ou simplesmente João Almino, seu nome autoral. Filho de uma família de sete irmãos, o escritor e diplomata João Almino nasceu em 1950 na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde passou sua infância. Cedo teve contato com o universo literário pelas mãos de seu pai, grande leitor, que tinha uma especial predileção pelas obras de dois ilustres escritores paraibanos: José Lins do Rego e José Américo de Almeida.

Aos 12 anos, após a morte de seu pai, a família mudou-se para o Ceará, estado natal de sua mãe. Almino viveu sua adolescência em Fortaleza, cidade em que completou seu curso secundário e iniciou o universitário. Reminiscências de seus anos dourados em Fortaleza encontram espaço em seu último livro Entre facas, algodão, com passagens por lugares famosos, como as praias da Taíba, Prainha e Meireles. Mas, após nove anos na terra de José de Alencar, movido pelo sonho de seguir a carreira diplomática, decidiu morar no Rio de Janeiro, onde concluiu o curso de Direito na UFRJ, e o curso do Instituto Rio Branco. Na época, recebeu a Medalha de Ouro do Rio Branco por ter conquistado o primeiro lugar dentre os concludentes do Curso de Preparação à Carreira Diplomática daquele Instituto. Mudou-se, então, para Brasília e lá começou a trabalhar no Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty).

Sua produção literária é muito profícua. João Almino é autor de oito obras de ficção, que tiveram grande aceitação nos meios culturais do país. São elas: Ideias para Onde Passar o Fim do Mundo (1987); Samba-Enredo (1994); As Cinco Estações do Amor (2001); O Livro das Emoções (2008); Cidade Livre (2010); Enigmas da Primavera (2015); Entre facas, algodão (2017); Homem de Papel (2022). No campo da não ficção, incluem-se ainda 12 trabalhos publicados. São quatro livros e oito ensaios voltados para as áreas de História, Política e Filosofia.

Os livros têm como cenário inicial Brasília, cidade que é 10 anos mais nova que o escritor e, talvez por ser tão jovem, ainda esteja em processo de construção de sua identidade. Sem marcas regionais fortes, uma vez que sua população é formada por migrantes de várias partes do país, acolheu várias naturalidades brasileiras que se incorporaram à mística do lugar. Antes de Almino, não havia registro de a cidade ter servido de palco para o desenvolvimento do enredo de obras literárias. Mas, decerto o chiar estridente das cigarras, o pó vermelho que cobre os vastos espaços, o traço reto do concreto erguido, abrindo nas fachadas curvas e linhas sinuosas – a digital de Oscar Niemeyer, as asas norte e sul do avião sobre o planalto central, tudo isso pode ter construído a plataforma ideal para a criação de seus personagens, marcando o ponto de partida para seu processo de criação literária.

O caráter dualista de sua obra, em que os opostos estão sempre em confronto, mostra a natureza dialética de sua prosa narrativa. São muitos os percursos antagônicos entre o real e a utopia, entre o pessimismo e a esperança, entre o tempo passado e o “zero momento” do presente, entre a vida na cidade e a atração pelo sertão, entre a delicadeza e a crueza de sentimentos insidiosos, entre conflitos existenciais e a realidade do cotidiano dos personagens.

Vale também destacar a fluidez da narrativa de João Almino, que agrega uma intensa leveza à narrativa, revestida de uma simplicidade despojada de arroubos linguísticos. Sua escrita não se perde na busca da sofisticação. Seu fazer literário, permeado de períodos curtos e linguagem direta, proporciona uma leitura agradável e prazerosa, que encanta e prende o leitor numa viagem de puro deleite.

Além de escritor, João Almino é diplomata, e em sua brilhante carreira serviu nas embaixadas do Brasil em Paris, Beirute, México e Washington. Foi ainda Ministro-Conselheiro em Londres, e Cônsul-Geral nas cidades de São Francisco, Lisboa, Miami, Chicago e Madri. Foi Embaixador do Brasil em Quito, no Equador. Foi professor da UNB, do Instituto Rio Branco, da Universidade do México, e das universidades americanas de Berkeley, Stanford e Chicago, instituições onde ensinou Filosofia e Literatura.

Este é João Almino. Um ser multifacetado, com muitas habilidades e talentos. Que desde julho de 2017 ocupa a cadeira nº 22 da Academia Brasileira de Letras, um reconhecimento justo e merecido de sua produção literária que marca definitivamente seu ingresso no Olimpo da Literatura no Brasil.

*Tereza Porto

Poetisa e escritora.

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