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“Jornada 4×3”

Fátima Vilanova é Doutora em Sociologia. Foto: Arquivo Pessoal

“A guerra está apenas começando, dentro e fora do Brasil, com artilharia pesada dos patrões, contra a mudança”, aponta a socióloga Fátima Vilanova

Confira:

Uma boa discussão toma conta das redes sociais: o fim da jornada de trabalho de seis dias por semana com um dia de descanso, proposta pela deputada federal do PSOL, Erika Hilton. A luta é por quatro dias de trabalho por três de folga, sem redução de salário. A guerra está apenas começando, dentro e fora do Brasil, com artilharia pesada dos patrões, contra a mudança, à qual atribuem possíveis danos à economia.

O livro de Pedro Gomes, publicado em Portugal pela Editora Relógio D’Água, intitulado, Sexta-Feira é o novo sábado: como uma semana de trabalho de quatro dias pode salvar a economia (2022), fornece argumentos racionais para convencer o patronato de que a mudança constitui aliada importante da inovação, mediante a melhoria de processos, produtos, elevação da produtividade, produzindo a redução do desemprego e dos movimentos populistas.

O livro sustenta que a redução da jornada de trabalho para quatro dias e três de descanso eleva a produtividade, reduz o absenteísmo, o adoecimento dos funcionários das organizações, eleva o emprego e o consumo, a massa salarial, e o PIB, eu acrescentaria.

Uma pesquisa desenvolvida em Portugal em 2023, por Pedro Gomes e Rita Fontinha, que trabalham com o tema no Reino Unido, e acadêmicos consultores, reuniu quarenta empresas e mil trabalhadores, de todos os setores de atividades, de forma voluntária, para estudar o impacto da mudança sobre empresas e trabalhadores. A proposta de pesquisa foi apresentada pelo deputado Rui Tavares, da Assembleia da República de Portugal, que a autorizou (Folha SP, Opinião, 19/11/2024).

A experiência constatou queda: na ansiedade (19%), estados depressivos (21%), sensação de tensão (21%), de solidão (14%), exaustão no trabalho (19%), na falta de conciliação com a vida familiar, que era de 45% e caiu para 8%. Observaram-se trabalhadores mais felizes, menos acidentes de trabalho e produtividade igual ou superior.

A pesquisa realizada em Portugal constatou o óbvio, que só não vê quem não quer. Jornada de trabalho de 4×3, com manutenção da remuneração, propiciará um círculo virtuoso, de satisfação, bem estar, de saúde física e mental, tempo para a família, para os estudos, qualificação, lazer, propiciando a abertura de novos empreendimentos. Enfim, produzirá pacificação social, tão necessária à democracia.

Um fato chama atenção nesta iniciativa: a adesão voluntária de 40% das empresas participantes à nova jornada de trabalho, após a realização do estudo. Não foi cobrada a existência de uma lei obrigando a mudança, mas empresas cidadãs, conscientes do seu papel civilizatório, e abertas ao novo. Isto mostra sensibilidade desses empresários para as necessidades mais que justas dos trabalhadores, seus colaboradores, e para os desafios impostos para a modernização da economia.

O problema central do patronato de todos os tempos, em todos os lugares, é o de não aceitar o trabalhador como sócio de sua riqueza, aquele sem o qual nada pode ser produzido, gerado. A cultura do patronato é de ver-se fazendo um favor ao empregar, como se não dependesse da mão de obra que contrata para os seus negócios.

A superexploração do trabalhador no Brasil é a forma moderna de perpetuar a escravidão, que já foi defendida como necessária à economia. Os baixos salários pagos, com preço da hora trabalhada de US$5,2, segundo dados da OCDE (2022), e extenuante jornada de trabalho mostram bem o atraso das elites produtivas do país, que sempre ignoraram justas demandas por mais dignidade no trabalho.

Fátima Vilanova é doutora em Sociologia e autora do livro intitulado “Está tudo errado…” (Amazon, 2024)

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Ver comentários (4)

  • Haverá muita luta e ranger de dentes, infelizmente. Mas sem discussão, estudos profundos e demonstração em potencial de resultados reais, não tem como esse projeto avançar.

  • Excelente texto e atualização de projetos em estudo, sublinhando impactos na proposta de redução da carga horária semanal dos trabalhadores. Grata pelo compartilhamento e sábias considerações.

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