Com o título “Troquei a IA por uma pizza calabresa”, eis artigo de Paulo Rogério, jornalista profissional que estreia, nesta sexta-feira, no Blgodoeliomar, com suas crònicas e artigos sobre temas variados. “Há poucos dias uma editora cancelou um concurso literário, pois detectou que 900 obras inscritas haviam sido fabricadas por IA. A chiadeira foi geral entre os autores reais, vamos chamar de Inteligência Humana (IH). Lógico. Especialistas garantem que sabem diferenciar uma IA de uma IH. Eu não sei. Melhor acrescentar essa especialidade na Perícia Forense”, expõe o articulista.
Confira:
Há uma frase popular que afirma que uma pessoa só pode se dizer realizada na vida quandoplanta uma árvore, tem um filho e escreve um livro. As interpretações para esse ditado são
inúmeras. Falam de amor incondicional, realização pessoal, atitudes marcantes, enfim.Acredito até que outras ações podem ser acrescentadas ao ditado.
Como, por exemplo, ser campeão em alguma coisa. Vencer uma disputa, ser o primeiro colocado, o imbatível. Nem que seja no torneio de bila da escola. Ou como o destaque do mês na empresa. A sensação é inesquecível. Ser o melhor entre todos, mesmo que seja entre você e um concorrente. O que vale é o prêmio.
Mas um desses fatores de “realização pessoal” – o ato de escrever um livro – vai caindo por terra. Ser autor de uma obra literária está deixando de ser propriedade de um ser humano. Por apenas R$ 49,90 você já consegue ser o proeminente realizador de uma produção literária com quase 400 páginas, diagramada, com nome estampado na capa e tudo. Basta marcar a noite de autógrafos. Tremei, Rubem Braga!
São os poderes – destruidores? – da Inteligência Artificial. A mim uma ameaça à literatura mundial. O anúncio na internet promete que, fornecendo apenas o título do livro que se pretende, o subtítulo e uma ideia do enredo, a IA te entrega o projeto do livro. Pagando a conta, em 60 minutos o romance chega em PDF. E ainda garante que você vai ganhar um dinheirão nos sites de venda.
Há poucos dias uma editora cancelou um concurso literário, pois detectou que 900 obras inscritas haviam sido fabricadas por IA. A chiadeira foi geral entre os autores reais, vamos chamar de Inteligência Humana (IH). Lógico. Especialistas garantem que sabem diferenciar uma IA de uma IH. Eu não sei. Melhor acrescentar essa especialidade na Perícia Forense. Alô, Academia Brasileira de Letras!
Fico pensando em qual a motivação de fraudar sua própria obra literária. Que sentido tem isso? Vaidade, diria alguns. Ambição? Frustração? Pura falta do que fazer? O que será das velhas redações que a gente fazia na escola sobre “Como foram suas férias”. Menino danado vai logo acessar a IA e em dois minutos manda o texto, via zap, para a professora on line, Curioso, fiz o teste. Mandei o que pediram: Título (Meu escritor artificial), subtítulo (Quando o autor é uma máquina inteligente) e o enredo (a saga de um escritor para fazer uma crônica sobre o uso da IA na literatura). Confesso, fui provocador e irônico.
Pois bem. Em dois minutos recebi no e-mail o planejamento de um livro imenso, com 12 capítulos, com a promessa de que a polêmica será um sucesso de vendas. Logo no início, a obra falaria de um escritor em crise de criatividade que recorre ao IA. E conclui ainda que – defendendo a sua classe operária – a máquina é uma boa solução para o futuro. Gastei meus R$ 49,90 com uma bela pizza calabresa e uma refrigerante bem gelado.
*Paulo Rogério
Jornalista. Trabalhou por mais de 25 anos no O POVO como repórter, articulista e editor nas áreas de Esportes, Cidades e Economia. Foi ainda ombusman do jornal e trabalhou ainda como assessor de imprensa do Fórum Nacional de Secretários da Assistência Social (Fonseas), em Brasília.
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Parabéns, Paulo Rogério, pelo belo texto, concordo plenamente com suas colocações. Nilton Medeiros.