Em referência ao Agosto Lilás, mês da conscientização e enfrentamento à violência contra as mulheres, a jornalista e escritora Mirelle Costa relata diariamente, neste espaço, casos que servem de alerta a todos nós
Confira:
(O texto abaixo foi escrito por uma mulher vítima de violência doméstica, atendida na Casa da Mulher Brasileira, em Fortaleza. O texto compõe a obra “Após a Morte do Conto de Fadas, a Ressurreição”, publicada pelo Senado Federal, e organizada pela jornalista e escritora Mirelle Costa. Este texto pode conter gatilhos emocionais que podem afetar algumas pessoas).
Os sentimentos são traiçoeiros. Às vezes, você precisa ignorá-los para se lembrar do que realmente merece recordação. Não deixe que alguém te trate mal só porque você ama essa pessoa. Os sentimentos podem te fazer tolerar absurdos por amor, mas amor não é sinônimo de humilhação. Se alguém te desrespeita, isso não é amor, mas sim, manipulação. Está na hora de redefinir seus limites. Amor próprio é saber quando dizer: chega! Pare de confundir “dependência emocional” com paixão!
Você merece alguém que te eleve, te respeite, te ame e lute ao seu lado e não esteja contra você. Você atrai o que é capaz de aceitar. Ame-se o suficiente para não aceitar menos do que você merece e também para sair dessa prisão emocional disfarçada de amor.
“Sentimentos são perigosos, pois nos fazem crer que nos pertencem.” Não é porque você me vê sorrindo que estou feliz. Apenas eu e Deus sabemos o que passei. Eu gosto muito de ser feliz, mas fico pensando em coisas tristes na maioria do tempo.
Eu não gosto muito dessa versão, mas é a pessoa que me tornei depois das dores que eu passei. Às vezes, eu escondo minha dor atrás de um sorriso.
Eu escuto todo mundo, até mesmo quando ninguém me escuta. Eu me preocupo com todo mundo, embora poucas pessoas se importam comigo. Às vezes, eu acho que sou uma pessoa muito difícil de entender, sabia? Tento ser forte, mas nem sempre consigo. Sinto como se estivesse gritando em silêncio, esperando que alguém ouça meu desespero. Há dias em que eu me sinto invisível no meio da multidão, como se ninguém realmente me visse.
Você também se sente assim?
Às vezes eu queria sentar de frente para mim mesma e dizer: “Me perdoa por tudo que eu te fiz passar até aqui. Quando tudo que você merecia era ser feliz. Me desculpa, de coração!”.
Quantas vezes eu me sabotei colocando os outros em primeiro lugar e esquecendo de mim mesma? Quantas vezes eu deixei meu sonho de lado por medo ou por achar que não sou boa o suficiente porque deixei que a insegurança me dominasse? Como permiti que as palavras dos outros me ferissem tanto? Quantas noites passei acordada revivendo os meus erros e desejando voltar no tempo? Será que eu esqueci que a vida é curta demais para viver imersa em arrependimento?
Quantas oportunidades deixei escapar por não acreditar em mim? E se, em vez de focar no passado, eu decidir viver o presente? Eu me pergunto se a chave para a felicidade não está em aceitar minhas imperfeições e celebrar minhas conquistas. Porque, no final, a única pessoa que pode mudar a minha vida sou eu mesma.
Queria ter escrito essa frase que compartilho agora: “Força para se perdoar e coragem para pedir perdão”. Ela parece ter sido feita para mim.
Como uma fênix
(Diante de qualquer situação de violência doméstica, ligue 180, é a Central de Atendimento à Mulher, um serviço telefônico do governo federal que oferece acolhimento, orientação e informações sobre os direitos das mulheres, além de receber denúncias de violência contra a mulher)
Mirelle Costa e Silva é jornalista, mestre em gestão de negócios e escritora. Atualmente é estrategista na área de comunicação e marketing