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“Lição silenciosa”

Djalma Pinto é advogado e especialista em Direito Eleitoral. Foto: Arquivo Pessoal

“A sede de poder, dinheiro e a vaidade impossibilitam muitas pessoas, nos diversos rincões do mundo, de contemplarem o pôr do sol”, aponta o advogado Djalma Pinto. Confira:

A cada dia cresce o número de pessoas que se deslocam ao espigão, na Praia do Náutico, para assistir ao pôr do sol. É um espetáculo impressionante pela beleza e assiduidade. Não é perceptível, porém, em dia nublado. Nessa ocasião, nuvens escuras não permitem acesso à paisagem cinematográfica de todas as tardes.

Não deixa de chamar a atenção a pontualidade britânica com que a estrela maior do sistema solar brinda os expectadores. Quem, por qualquer razão, tentar observá-la, após às 17:36hs, nas férias de julho, em Fortaleza, constatará apenas o final do seu desaparecimento na linha do horizonte, no sentido Barra do Ceará.

Essa pontualidade chama a atenção por outra singularidade. Ao longo de milhões de anos, o espetáculo está disponibilizado para quem transita pela terra. Esteja a pessoa alegre, triste, acamada, profundamente feliz ou infeliz, indiferente a tudo, até por volta das 17:36hs, na capital do Ceará, o sol fica à disposição de pobres, ricos, judeus, palestinos, russos e ucranianos para testemunharem a sua despedida apoteótica no final de cada dia.

Disponibiliza sua beleza para todos, deixando claro que não há discriminação por parte da natureza. Todos os povos têm o direito, não só a contemplá-lo, mas à prosperidade e à paz necessária para vivenciar a felicidade. É preciso, todavia, que se desarmem os espíritos para poder usufruir o que o mundo pode oferecer de melhor.

O mesmo sol, que desaparece à tarde, ressurge todas as manhãs, no sentido Praia do Futuro. Raia, com o mesmo esplendor, há milhares de séculos. Sua eternidade expõe a insignificância dos humanos que, mesmo quando conseguem completar mais de cem anos, quase sempre, acusam no corpo as sequelas irreversíveis deixadas pelo tempo.

No seu nascer e desaparecer todos os dias, a nítida advertência para as pessoas, que se sentem muito poderosas; aos homens temidos pela audácia de fazerem o mal com danos irreparáveis aos seus contemporâneos; aos governantes arbitrários, que infestam o mundo, fornecendo lições nocivas ao seu povo. Ao enterrar-se, vagarosamente, abrindo espaço para a escuridão e retornar triunfante, o sol deixa a comprovação da transitoriedade das pessoas na terra. Sem exceção, todos partem, uns com mais, outros com menos permanência nela. Só ele é eterno e sempre luminoso.

A certeza da finitude de todos os seres vivos é, por certo, a prova mais eloquente de que a opção pela solidariedade e pela prática do bem é recomendável para quem têm o privilégio de viver ou ter vivido em nosso planeta. Afinal, guerras, perseguições políticas e assalto ao dinheiro público, com ou sem sanção suportada pelos infratores, são apenas consequências da obscuridade dos incapacitados de perceberem a transitoriedade da vida e a comprovada impossibilidade de, ao término do seu existir, não serem levados bens, brasões e insígnias.

A sede de poder, dinheiro e a vaidade impossibilitam muitas pessoas, nos diversos rincões do mundo, de contemplarem o pôr do sol, por meio do qual o astro rei ensina, de forma silenciosa, que somente ele não passa e pode disponibilizar um brilho eterno.

A prova incontroversa disso é que homens, que mais impactaram a humanidade como Aristóteles, Shakespeare, Napoleão, Lincoln e Hitler passaram pelo mundo com a mesma transitoriedade da pessoa de menor projeção na sociedade de sua respectiva época. Deixaram apenas lembranças positivas ou recordações amargas pelos danos causados aos seus contemporâneos. Não há como reencontrá-los porque já partiram. Deles sobrevivem apenas as lições construtivas ou destrutivas para as sucessivas gerações. Precavido, Thomas Jefferson confessara: “Eu gosto mais dos sonhos do futuro do que da história do passado”.

Hoje, amanhã e sempre, alheio a tudo, no final da tarde, o sol se esconderá, deixando, entretanto, a certeza de voltar a resplandecer, no dia seguinte, indiferente a todos aqueles que, por quaisquer razões, não tiveram tempo para observar a singular beleza por ele produzida, há milênios, em cada entardecer.

Djalma Pinto é advogado, autor de diversos livros, entre quais A Cidade da Juventude, Pesquisas Eleitorais e a Impressão do Voto, Ética na Política e Distorções do Poder

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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