“Maria, Maria, 40 anos: uma força que (ainda) nos alerta!” – Por Daniel Fonsêca

Maria Luiza é ex-prefeita de Fortaleza. Foto: Fernanda Barros

Maria, Maria é um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta, uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta… HOJE, neste 17 de novembro, completam-se quarenta anos daquele momento que chacoalhou o Brasil: a confirmação da vitória de Maria Luíza Fontenele, eleita prefeita de Fortaleza . E há quarenta anos a música de Milton (viva ele!) nos embala de outra maneira, principalmente a partir da nossa cidade.

A segunda-feira, 18 de novembro de 1985, amanheceu nas ruas e nos jornais com a confirmação de que o resultado das urnas em Fortaleza não falava apenas de uma vitória, mas do nascimento de uma nova forma de fazer política.

Maria Luiza Fontenele, socióloga e professora da UFC de 42 anos, solteira e mãe de Andrea, filha de Quixadá e filiada ao recém-criado Partido dos Trabalhadores (PT), então deputada estadual, era eleita a primeira mulher prefeita de uma capital brasileira e também a primeira do partido. Era o fim da hegemonia dos “coronéis” e o prenúncio da “Administração Popular”. A gestão teria um contexto interno e externo controverso – inclusive no PT – e seria isolada (sabotada) pelas vulnerabilidades dos municípios na fase pré-Constituição Federal de 1988, mas isso aí a História ainda está a analisar e a contar…

A votação naquela primeira eleição municipal “pós-ditadura” aconteceu na sexta (15.11); era um feriadão. Então a apuração seguiu pelo sábado (16.11) e pelo domingo (17.11), quando a vitória de Maria e da população de Fortaleza se confirmou! A Maré Vermelha havia se alastrado por toda a cidade. Eu tinha apenas dois anos, mas se mantém em mim, de forma imanente, memória viva instalada, porque eu estava lá com minha mãe (Cristina Fonsêca) e com boa parte da militância das esquerdas do Ceará.

A vitória de Maria foi um raio inesperado para o conjunto das esquerdas e para a elite política cearense, acostumada a rivalizar entre nomes tradicionais. A capa do jornal O Povo em 18.11.1985 não deixa dúvidas: “POVO LEVA MARIA AO PODER”, com uma foto carismática, sorridente e com punho erguido de Maria.

O que os institutos de pesquisa não conseguiam captar, contudo, era a força aparentemente invisível, mas bem sentida nas ruas que Maria Luiza trazia consigo: a dos movimentos sociais espalhada por bairros e comunidades, “uma gente que ri quando deve chorar e não vive, apenas aguenta” .

Sua campanha não foi feita nos gabinetes, mas nas bases, nas ocupações, nas lutas por anistia, por direitos das mulheres, por direitos de todas a população (como a União das Mulheres Cearenses e a União das Comunidades da Grande Fortaleza). Era “preciso ter força, ter raça, ter gana sempre“.

Aliás, o próprio contexto político que a impulsionou foi fermentado por muitas outras figuras imprescindíveis que estavam nos movimentos, na comunicação da campanha, no grupo político, no PT… Uma figura destacada, ali, era a professora Rosa da Fonsêca junto a centenas de outras lutadoras, como Célia Zanetti. Companheira incansável da luta, Rosa viria a ser presidente da CUT, vereadora de Fortaleza, candidata a governadora. Rosa e Maria, “na luta todo dia”, sempre fizeram a política feita de corpo, alma e chão. “É preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre!

O dia 17 de novembro de 1985 foi mais que uma eleição; foi uma declaração de que a política no Brasil, no processo de redemocratização, enfim, poderia ser escrita no feminino e com o lastro da militância popular.

O legado da professora, lutadora, prefeita, deputada Maria permanece vivo. E mais ainda: *seguimos tendo o privilégio de que ela, Maria, permanece viva, na luta todo dia! “Ela possui essa marca, essa estranha mania de ter fé na vida!

Viva a Administração Popular! Viva Maria Luíza Fontenele!

No próximo dia 27.11, Maria completa pujantes 83 anos, seguindo firme e leve nas lutas.

No dia seguinte (sexta, 28.11), às 19h, no Cine São Luiz, acontece a primeira exibição do filme “Prefeita” , de Felipe Barroso. Maria estará lá. Todo mundo convidado!

Daniel Fonsêca é jornalista, servidor técnico-administrativo da UFC e Doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ

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