Com o título “Master e Americanas abalam confiança em quem deveria zelar pela transparência”, eis a coluna “Fora das 4 Linhas”, assinada pelo jornalista Luiz Henrique Campos. “Depois da implosão das Lojas Americanas, onde balanços flagrantemente fraudados foram, por anos, aprovados por auditorias renomadas, seria natural esperar um ambiente de vigilância reforçada. No entanto, a história se repete. O Banco Master, mesmo cercado de indícios problemáticos, passou sob o radar dos órgãos de controle, que continuaram a avalizar suas operações ao mercado”, expõe o colunista.
Confira:
O escândalo que envolve o Banco Master revela, mais uma vez, o quão frágil pode ser a confiança depositada em consultorias, agências de risco e órgãos de avaliação que, em tese, deveriam zelar pela transparência. Assim como ocorreu em tantos outros episódios recentes, o caso expõe fissuras profundas no sistema de supervisão financeira, que se apresenta como sólido, mas que tropeça diante de fraudes sofisticadas e narrativas bem conduzidas. A dependência quase automática desses selos de credibilidade mostra um mercado que, apesar de complexo, ainda opera em grande parte pela fé em carimbos.
Depois da implosão das Lojas Americanas, onde balanços flagrantemente fraudados foram, por anos, aprovados por auditorias renomadas, seria natural esperar um ambiente de vigilância reforçada. No entanto, a história se repete. O Banco Master, mesmo cercado de indícios problemáticos, passou sob o radar dos órgãos de controle, que continuaram a avalizar suas operações ao mercado. É como se o sistema de fiscalização estivesse mais preocupado em validar percepções do que em checar realidades.
Nesse cenário, governos estaduais e municipais também entram no jogo. Muitos, seduzidos por promessas de solidez e retornos fáceis, ignoraram sinais de alerta e apostaram quase irresponsavelmente em instituições e narrativas que, hoje, se mostram frágeis. A busca por soluções rápidas para gaps orçamentários ou para embelezar indicadores fiscais cria terreno fértil para a influência desses “vendedores de ilusões”, que oferecem simplicidade onde deveriam existir rigor e cautela.
O mais curioso e preocupante, é que os mesmos avalizadores dessas irresponsabilidades são, useiros e vezeiros, em empunhar discursos catastrofistas sobre as contas públicas. Apresentam-se como guardiões da austeridade e paladinos da confiabilidade, mas, na prática, legitimam esquemas que corroem a credibilidade financeira do país. Há, portanto, um evidente descompasso entre a retórica moralista e a prática condescendente que alimenta distorções perigosas.
Os episódios do Banco Master e das Americanas deixam, assim, uma lição valiosa: em tempos de selos, rankings, certificados e imagens milimetricamente construídas, a confiança não pode ser tratada como moeda de troca. O mercado precisa reaprender a investigar, a duvidar e a exigir substância, e o poder público, por sua vez, precisa abandonar a crença cega em atestados de confiabilidade. No fim, o que esses casos mostram é que, sem vigilância e responsabilidade efetivas, o brilho do verniz pode esconder o abismo.