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“Memórias da Beira Mar” – Por Totonho Laprovítera

Totonho Laprovítera, o contador de histórias. Foto: Arquivo Pessoal.

Com o título “Memórias da Beira Mar”, eis mais um conto da lavra de Totonho Laprovitera, arquiteto, artista plástico e escritor.

Os momentos especiais de hoje são as memórias de amanhã.” (Aladdin)

Confira:

No Mercado dos Peixes, lembrei-me dos pescadores carregando pescados em enfieiras sobre os ombros. Pela cidade, ao serem chamados pelos fregueses, tratavam o peixe fresco ali mesmo, nas calçadas, deixando as escamas como marcas de suas passagens.

Na bela Enseada do Mucuripe, reduto histórico a partir da bravura dos jangadeiros, guardo recordações das redes de pesca presas aos calões. Foi naquelas águas onde tomei meu primeiro banho de mar, durante uma temporada passada em uma casa à beira mar.

Recordo-me da Avenida Beira Mar – ainda uma via estreita de mão dupla, na época – sendo asfaltada no início dos anos 1960. Lembro-me também das peixadas e da casa de Luiz Gonzaga, amigo do papai, de onde, do sobrado, assistimos a uma animada gincana automobilística, disputada por jovens casais.

No Mucuripe, era comum vermos casas de palha, pescadores típicos e jangadas de piuba – indo ou voltando do mar. Era a alegria e a paz do sustento de todos, abençoado nas missas da Capela de São Pedro, ou dos Pescadores, guardiã há 150 anos dos valores culturais da cidade e, sobretudo, dos moradores do bairro.

Uma vez, bem criança, na praia do Iate Clube, do qual meu pai foi um dos primeiros sócios, eu me perdi da família ao me afastar entre as pessoas. Chorando, tentei encontrar nosso carro pelo instinto, mas felizmente fui achado e levei um carão do tamanho de um bonde.

Nos anos 1970, descobri a vida noturna do Mucuripe, entre bares, peixadas e encontros. Frequentava a casa de Cláudio Pereira, um espaço democrático, cheio de artistas e intelectuais, e o bar do Anísio, onde descobri a crônica de costumes, desenhando e escrevendo.

De lá para cá, era a Beira Mar do Alfredo “Rei da Peixada”, Aquarius, Badalo, Baiuka, Bem, Benzinho, Coqueluche – com luz negra! – Dom Victor, Escorrega, Expedito, Hong Kong, Martins, Peixada do Meio, Sandra’s, Tocantins, Trapiche e Trastevere. Das boates Meia-Noite, Fortim e Barbarella. Era a Fortaleza das tertúlias nos clubes Diários, AABB, Náutico e Iate. Era a Fortaleza ainda adolescendo.

Mas também havia, na calçada da praia, as mesinhas com geladíssima cerveja, deliciosa caipirinha de limão e o enfarofado churrasquinho de gato. Para a higiene dos fregueses, uma bacia de flandres com água servida para lavar copos e utensílios.

De primeiro, fazia parte do roteiro de entretenimento dos fortalezenses dar uma volta de carro pela Beira Mar. Mas essa já é uma história que contarei depois.

*Totonho Laprovítera

Arquiteto, artista plástico e escritor.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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