Categorias: Opinião

“Mudando meu percurso” – Relatos Organizados Por Mirelle Costa

Em referência ao Agosto Lilás, mês da conscientização e enfrentamento à violência contra as mulheres, a jornalista e escritora Mirelle Costa relata diariamente, neste espaço, casos que servem de alerta a todos nós

Confira:

(O texto abaixo foi escrito por uma mulher vítima de violência doméstica, atendida na Casa da Mulher Brasileira, em Fortaleza. O texto compõe a obra “Após a Morte do Conto de Fadas, a Ressurreição”, publicada pelo Senado Federal, e organizada pela jornalista e escritora Mirelle Costa. Este texto pode conter gatilhos emocionais que podem afetar algumas pessoas).

Em minha vida, tive várias decepções amorosas. Ao buscar o amor, encontrei a dor, pois sempre me enganei com os meus parceiros. Eu buscava no outro a felicidade, mas hoje vejo que tenho que encontrá-la em mim.

Quando casei, não fui aceita pela minha sogra nem pela minha cunhada. Minha sogra chegou ao ponto de, em uma Semana Santa, dizer, perante os familiares, que ela não queria que eu namorasse com seu filho.

A minha resposta foi que ela deveria pedir para que seu filho não namorasse comigo, pois ele deveria obediência a ela e não a mim. Depois disso, saímos da casa dela.

Eu não sabia se o preconceito dela era por eu ser uma pessoa com deficiência ou porque, aos dezessete anos, já tinha um filho de dois anos.

Mesmo com tantas diferenças, demos continuidade ao nosso relacionamento e meu namorado passou a morar comigo. Ele mudou muito.

Deixou de ser aquele rapaz para quem a mãe preparava o “Toddy” e passou a comer comida de adulto, como arroz e feijão.

Passou a me ajudar na criação do meu filho, aprendeu a interagir com a criança, pois ele me amava. Passamos por muitas coisas juntos e, muito tempo depois, com o nosso afastamento, minha sogra comprou um carro, com a desculpa de ajudar meu marido, mas, na verdade, ela sabia que era mais uma tentativa para dar continuidade aos seus planos.

Sempre que íamos viajar, minha sogra ia ao lado do meu marido. Eu ia no banco de trás do carro, com o pai dele, que ela chamava de “meu boneco”.

Meu sogro era a única pessoa da família que me apoiava. Chegou ao ponto que aquilo tudo me fez tão mal, que tomei a decisão de pedir a separação.

Dessa forma, conheci, realmente, com quem eu estava casada, pois ele perguntou por que eu queria me separar. Eu falei que não aguentava mais ser provocada pela sua mãe e ele não dizer nada e, quando eu não dizia nada, ela aproveitava, criticava ou destratava também meu filho.

Estava cansada de ver só partes do meu corpo nas fotos da família.

Então, ele pediu mais uma chance e, para que eu realmente lhe desse outra oportunidade, falou com meu filho para pedir que eu dessa outra oportunidade. E eu dei. Um dia, peguei uma carta dele para uma mulher que me fez perder o chão. Naquele momento, comecei a sangrar, não me pergunte como, mas me via em uma bolsa de sangue. Um detalhe: eu não precisei procurar muito. Parecia ser de propósito que aquele papel estava ali.

Uma noite, acordei de um sonho chorando muito e, no sonho, o sentimento era de angústia, pois não adiantava eu me agarrar em nada, pois tudo estava sendo levado pelo vento; a casa estava se desmanchando, telha por telha, tijolo por tijolo e todas as árvores também. Foi quando ele acordou e me perguntou por que eu estava chorando e contei meu sonho. Ele me revelou que tinha pedido outra chance para se vingar, pois tinha passado a sair com outras mulheres e que, agora, tinha uma namorada.

Ele também “limpou” uma conta conjunta na qual me incentivou a depositar todo o meu dinheiro. Então, descobri que aquele homem com quem casei não existia. Ali havia um homem vingativo, que não aceitou ser desprezado.

Sofri muito, tentei acabar com a minha vida e, depois, cheguei a cogitar acabar com a dele, mas decidi mudar o meu percurso e viver a minha vida.

Senhora T.

(Diante de qualquer situação de violência doméstica, ligue 180, é a Central de Atendimento à Mulher, um serviço telefônico do governo federal que oferece acolhimento, orientação e informações sobre os direitos das mulheres, além de receber denúncias de violência contra a mulher)

Mirelle Costa e Silva é jornalista, mestre em gestão de negócios e escritora. Atualmente é estrategista na área de comunicação e marketing

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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