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“Muitas convenções, poucas convicções”

Barros Alves é jornalista e poeta

“O que vemos entre nós são aglomerados de interesses, muitos deles fortuitos, circunstanciais e oportunistas; menos fundados em consistência ideológica que os identifiquem como agremiações políticas de substância ética e consequente compromisso com os legítimos valores que dão sustentabilidade a uma democracia sem adjetivações”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves. Confira:

O subtítulo deste modesto artigo bem poderia ser: a parafernália partidária brasileira. No final de semana muitos partidos políticos realizarão convenções em todo o Brasil, para a escolha dos candidatos às eleições municipais. Na verdade, infelizmente, não temos partidos políticos no sentido lato e profundo que o termo deve comportar no espectro da Ciência Política. O que vemos entre nós são aglomerados de interesses, muitos deles fortuitos, circunstanciais e oportunistas; menos fundados em consistência ideológica que os identifiquem como agremiações políticas de substância ética e consequente compromisso com os legítimos valores que dão sustentabilidade a uma democracia sem adjetivações.

Um sistema partidário com mais de 30 agremiações constitui claramente uma promiscuidade. Não há democracia no mundo que se sustente numa situação esgarçante e desgastante desse tipo. Até porque, segundo definição do líder político Ciro Gomes, ao atacar desafeto de um dos mais antigos grêmios partidários do País, disse ele que aquele partido não passava de um “ajuntamento de ladrões.” Da segunda parte da frase não dou conta; porém, nossos partidos não passam mesmo de ajuntamento de qualquer coisa. Sem exceção.

O próprio Ciro Gomes serve como exemplo da fragilidade desses “ajuntamentos” sem consistência programática, sem substância ideológica e, portanto, desvestido de poder para adotar medidas seletivas na condução dos processos de filiação e escolha de candidatos. O sobrenome partidário de Ciro, por exemplo, pode ser Ciro ARENA PDS PMDB PSDB PPS PSB PROS PDT Gomes. É uma constatação que pode ser vista no sobrenome de vários outros políticos brasileiros. Com efeito, não poucas personalidades se aproveitam dessa promíscua cultura partidária para fazerem da política uma profissão e, tantas vezes, após eleitos, até pelas facilidades de uma legislação sempre conivente com descaminhos, debandam dos partidos de origem e praticam desavergonhadamente o velho e malsinado carreirismo, trocando de assento de acordo com as facilidades que lhes são oferecidas, sobretudo pelo poder da hora. O bilionário e imoral Fundo Partidário que ceva as centenas de partidos de faz-de-conta, constitui outra janela aberta ao desleixo para com princípios e um aceno para a corrupção ‘interna corporis.” Como bem disse Rui Barbosa em tom de denúncia, essas atitudes não se coadunam com o exercício da Política, que é a arte de gerir o Estado em busca do bem comum; está mais para a politiquice, que rima com canalhice.

Com raríssimas exceções, portanto, veem-se convicções ideológico-partidárias nessas convenções, em termos coletivos. O que estamos a observar é mistura de alhos com bugalhos em vários municípios cearenses, em razão tão somente do jogo de interesses para a consecução do poder local a qualquer preço. É certo que em vários partidos há alinhadas e corretas convicções individuais. Todavia, às vezes, têm suas posições atropeladas por decisões das cúpulas que dominam os feudos partidários. E isto, desgraçadamente, estimulado pelas direções em nível superior.

Para não ser acoimado de injusto pessimista, registro declaração pública do deputado Carmelo Neto, presidente do Partido Liberal, de feição direitista e conservadora, na qual ele afirma que fará intervenção em qualquer diretório ou comissão provisória que firmar aliança com partidos de esquerda com vistas às próximas eleições. É uma atitude a ser seguida, não interessa o viés ideológico, porque contribui para manter a segurança partidária. Reservar-me-ei a não falar dos acordos escabrosos. Não cabem em dez artigos destes.

*Barros Alves é jornalista e poeta

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