“Confesso que me envolvo, navegar é atraente, fascinante. Desde criança sonho com um navio. E, até hoje, não rolou”, aponta a jornalista e publicitária Tuty Osório.
Confira:
De passagem corrida pelo salão de beleza, numa tentativa de fazer as unhas antes da próxima viagem de trabalho, naquele mesmo dia, à noite, encontro a clientela alvoroçada.
Um navio de turismo está atracado no terminal portuário. Parte das moças vai embarcar e embeleza-se para a jornada. Uma pequena, neta de alguém VIP da casa, pede para fazer francesinha nas unhas, para desespero das manicures.
O salão está lotado e depreendo que o procedimento é mais demorado. Cedo a minha hora marcada, porque apesar da gincana repetida das minhas viagens, tenho tempo.
Pego o livro que sempre carrego e vou relaxar, enquanto espero.
Impossível ler. O entusiasmo com a navegação que se aproxima toma conta do ambiente. Confesso que me envolvo, navegar é atraente, fascinante. Desde criança sonho com um navio. E até hoje, não rolou.
Escuto sobre os atrativos. As expectativas. A internet comprada a 100 euros para não haver desconexão. Os protestos de quem vai, exatamente para se desconectar. É delicioso observar.
Penso nos imigrantes que atravessaram o Atlântico em porões insalubres, em busca do sonho da América Tropical. Nos abastados do mesmo século, que iam a Paris como se fosse na esquina, em cabines de luxo.
Desconcertada, percebo que apesar das desigualdades, o encantamento permanece.
Lembro também dos relatos de viagens divertidas, relaxantes, instrutivas. De minha mãe que compartilha comigo esse sonho, que, aliás, ela sonhou primeiro. Dos queridos amigos que abriram mão das compras e usaram o dia de parada em Fortaleza para estar comigo e com as minhas filhas, num dos périplos que fizeram.
As navegações relatadas nos poemas épicos. O Navegar Exato confundido com ser mais necessário que a vida. Navegar é preciso, viver não é preciso. Diziam os navegadores antigos. Uma história que sabemos, hoje, é mais cruel que heroica.
O amigo que organiza roteiros personalizados divulga esta semana um que fala em seis motivos para percorrer o mar. Há muitos mais, me parece. Pragmáticos e românticos.
Que sempre seja possível sonhar. Seja qual for o sonho, que cada qual tenha o seu, para sonhá-lo em parceria, harmonia, alegria.
Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS