“Muito além de uma partida de futebol” – Por Ernesto Antunes

Ernesto Antunes, consultor de empresas. Foto - Arquivo Pessoal

Com o título “Muito além de uma partida de futebol”, eis artigo de Ernesto Antunes, administrador, consultor empresarial e escritor. “De volta ao hotel, senti-me recompensado por tudo que havia sido proporcionado e, como dizia minha mãe: “Tem coisas simples na vida que não têm preço”, expõe o articulista sua experiência numa visita que fez à cidade de Chapecó (SC) e, em especial, ao curtir um jogo do clube da terra.

Confira:

Quando fui convidado para participar de um evento em Chapecó, cidade desenvolvida de Santa Catarina, não imaginava a grande experiência que teria nesses dois dias de permanência.

Assim que desembarquei, percebi que essa cidade de quase 300 mil habitantes tinha algo diferente a oferecer aos visitantes, pois fiquei surpreso com o trânsito organizado, a limpeza e, principalmente, com a educação das pessoas, a começar pelo taxista e pela calorosa recepção que tive no hotel.

Como apreciador de esportes, após a participação no evento, resolvi fazer uma caminhada de 2 km até o bucólico estádio Arena Condá, para assistir ao jogo da Chapecoense. Quando alcancei o estádio, com quase duas horas de antecedência, resolvi conhecer o que acontecia naquele momento no entorno da Arena. Além da estátua de um índio guerreiro, logo percebi que o comércio
ambulante de comidas, bebidas e diversos artigos esportivos alusivos ao clube de Chapecó era forte e organizado.

Comecei minha incursão gastronômica com o famoso pastel com caldo de cana, em um trailer que se estabelece no local somente em dias de jogos, como afirmou o proprietário, Sr. Adolfo. Ele garantiu que o seu caldo de cana com limão era o melhor da região. Após me satisfazer com o caldo de cana e o pastel, queria mais — e, logo ao lado, resolvi comer um espetinho de frango,
acompanhado de um chope artesanal, feito na própria região central de Santa Catarina. O proprietário foi logo dizendo que esses chopes são tradições alemãs.

Depois de saborear esse duo, aproveitei e fui comprar uma lembrança alusiva à Chapecoense, tendo escolhido um belo boné com o escudo e as cores do clube da casa, por 35 reais. Finalmente, resolvi entrar no estádio e, para minha surpresa, tudo estava organizado: seguranças, nada de filas quilométricas ou burocracia, e um clima ameno de 20 graus no início da noite.

Antes de procurar meu lugar para sentar, resolvi comprar um sacão de pipoca que trazia, na embalagem, o escudo da Chape, provando que o profissionalismo e o marketing também chegaram aos clubes menores.

Ao sentar-me em uma cadeira na área descoberta, comecei a sentir um clima diferente dos jogos que assisto em outros locais, principalmente no Ceará. Famílias e mais famílias com filhos pequenos, todos felizes, com os pais conversando com casais amigos, e as crianças, cerca de 50, correndo e brincando como se estivessem no quintal de casa, tornavam o ambiente repleto de paz, segurança e nostalgia. Nos anos 70, quando ia ao estádio com meus pais no PV, vivia algo parecido.

Para se ter ideia desse clima, emocionei-me com a cena quando um enorme personagem Hulk chegou ao estádio para animar ainda mais as crianças, e até os adultos. Achei incrível.

Voltei minha atenção ao jogo, pois estava, afinal, em um estádio, quando os dois times entraram em campo, com um belo jogo de luzes e um alto-falante anunciando que a “festa” estava começando. Nesse momento, a banda da torcida Brava da Chapecoense começou a tocar clássicos conhecidos do samba, como Coisinha do Pai, de Beth Carvalho.

Logo em seguida, o estádio ficou em silêncio para a execução do Hino Nacional, com todos os jogadores perfilados e os torcedores em pé, em posição de respeito, cantando o nosso hino. Fiquei emocionado, pois nunca havia visto isso em um estádio de futebol. Infelizmente, hoje em dia, poucos se importam com os símbolos nacionais. Até as crianças pararam de brincar para ouvir e cantar o hino. Que belo espetáculo de cidadania.

Finalmente, o jogo começou, e a alegria e o desejo de extravasar, com respeito, eram perceptíveis. Notei, entre os espectadores sentados, muito mais gritos de incentivo do que críticas ao treinador ou aos jogadores, provando que o verdadeiro torcedor precisa torcer de verdade. Nos momentos dos gols da Chape, muitos abraços, apertos de mão e o desejo de “quero mais”, em um clima de pura confraternização.

No intervalo, um interessante e belo desfile das candidatas a Miss Farroupilha, evento que acontece nesse período na Região Sul, caracterizava, principalmente, a tradição gaúcha. Gostei do espetáculo, e voltamos para o 2º tempo com mais gols, polêmicas da arbitragem e as eternas dúvidas do VAR. No final do jogo, mesmo com o empate contra o Vila Nova, eu e os torcedores
saímos satisfeitos, não apenas pelos gols, mas por tudo que envolveu esse jogo.

Na saída organizada dos torcedores, perguntei a um casal onde ficava meu hotel e, para minha surpresa, eles me perguntaram de onde eu era. Ao afirmar que era de Fortaleza, disseram: “Vamos, eu te levo.” Não aceitei a gentileza, pois, no caminho de volta, passei em uma famosa cucaria e comi uma deliciosa cuca de uva, doce típico da região.

De volta ao hotel, senti-me recompensado por tudo que havia sido proporcionado e, como dizia minha mãe: “Tem coisas simples na vida que não têm preço.”

*Ernesto Antunes

Administrador, consultor de empresas e escritor.

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