“A mídia, em suas distintas moradas, ampliou os espaços da sua influência, no jornalismo impresso e, em seguida. no rádio e na televisão , nas redes sociais e na ‘web’. Foi política, com os primeiros jornais de confissão partidária, para logo transformar-se em porta-voz de interesses econômicos e do Estado”, aponta em artigo o cientista político Paulo Elpídio de Menezes Neto. Confira:
Esforço-me por não confundir o texto simples, claro e direto, como preferem alguns linguistas e os que não manejam com propriedade este rico idioma, “inculto e belo”, com a forma banalizada da escrita, liberada das regras mínimas da gramática ou dos exercicios capitosos do estilo (arre!).
O jornalismo foi, até aqui, um desvio do eixo literário formal, conquanto tenha sido uma escola de escritores e de promissores cronistas.
O “new journalism” quebrou regras e asfaltou a estrada de romancistas, contistas e cronistas nos seus rodapés literários , sob forma gráfica variada, os “folhetins” e os “sueltos” no qual se exercitaram Proust, Flaubert, Eça, Machado, Goethe, Alencar e Jáder de Carvalho, só para mencionar alguns desses esbanjadores de prosa e de talento.
As traduções portuguesas do Quixote de Cervantes, feitas pelos Viscondes de Castilho e Azevedo e Aquilino Ribeiro, são lições exemplares da translação de textos, para alguns uma recriação da obra de idioma no qual nasceu. Milton Amado e Sérgio Molina seguem a linha tradutora de Aquilino Ribeiro e. armados de nova plumagem, encorajam novos tradutores que vestem o velho Quixote e as suas aventuras com uma roupagem despida de certos atavios de estilo, nem por isso menos atraentes e esteticamente menos sedutores.
A mídia, em suas distintas moradas, ampliou os espaços da sua influência, no jornalismo impresso e, em seguida. no rádio e na televisão , nas redes sociais e na “web”. Foi política, com os primeiros jornais de confissão partidária, para logo transformar-se em porta-voz de interesses econômicos e do Estado. A sua importância, como jornalismo e instrumento de compartilhamento cultural, perdeu expressão e credibilidade. Da “opinião”, da qual foi expressão respeitada e legítima, fez da “notícia” o seu instrumento de trabalho. Do comentário, exceção ao que de bom veicula, ainda, entre leitores cada vez mais escassos, passou, em muitos casos, a “construir” a realidade. Os comentaristas transfiguraram-se em Intérpretes ideologizados, a soldo, muitas vezes, ainda que não seja a regra.
As formas da escrita impressa em jornais e revistas, em descontrolado processo de extinção, ou dos textos falados na tv e em áudios de ampla divulgação, perderam expressão e representatividade social.
Raros jornais conseguiram manter os “cadernos de cultura”, espaço no qual se manifestavam a crítica literária e social e despontavam as novas vocações e o talento em formação de escritores e homens de pensamento.
A confiança na salvação desses espaços perdidos de cultura e opinião vem da esperança de manter-se a Internet e as redes sócias livres e independentes, a salvo dos rigores da censura política do Estado e dos mecanismos jurídicos que regem a liberdade. Com os cuidados dispensados ao banho da criança não veem que estão a jogar fora o bebê e a água da bacia — com o sabonete.
Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor, escritor e ex-reitor da UFC