Eu gosto daquelas palestras que a gente sai assim extasiado/a pelo tanto que as palavras do/a outro/a mexeram comigo quando estava na plateia. Foi assim no dia em que ouvi Jarid Arraes e Pedro Pacífico falando, ao mesmo tempo, no mesmo evento. Isso aconteceu no Festival de Literatura organizado pelo shopping Riomar, em setembro do ano passado. A vivência foi tão boa que eu achei aqui umas anotações perdidas no celular e me vi na obrigação de partilhar com vocês. A frase que está no título da coluna de hoje foi dita pelo Pedro Pacífico e ele tem toda razão. Nós nos comparamos a todo instante e daí vem a frustração do escritor, por não ser lido como poderia ou por não ganhar o prêmio que almejava. O autor de “Trinta segundos sem pensar no medo: Memórias de um leitor” aponta que é preciso incentivar a literatura por prazer, que vai além dos livros que somos obrigados a ler para o vestibular, por exemplo. “Eu não vim de uma família de leitores. Então, as redes sociais me ajudaram a ler mais. Eu gosto de mostrar meu conteúdo, principalmente pra quem não tem costume de ler. Existe uma soberba ainda na literatura, isso afasta e todos nós nos prejudicamos, por isso, não comparar sua escrita é libertador”, comenta Pedro Pacífico, advogado e escritor, responsável pelo perfil Bookster, no Instagram, hoje com quase seiscentos mil seguidores e tendo entrevistado em seu podcast Valter Hugo Mãe, Leandro Karnal, Liana Ferraz, João Silvério Trevisan, Conceição Evaristo e muitos outros.
Vale a pena o esforço
Jarid responde a um questionamento tão comum entre nós escritores, o medo da nossa escrita não ser aceita. “Um não; muitas vezes, não é sobre você”, diz a vencedora dos Prêmios APCA, Biblioteca Nacional e finalista do Jabuti. “Eu acho que ganhar prêmios é bom, mas ver seu livro ser lido nas escolas e por professores é uma emoção indescritível. Eu fui citada no Enem, mas antes disso tudo, ouvi muitos não com a justificativa de que não havia mercado. Quantas vezes nós mulheres ficamos nas prateleiras de baixo? Por meio de um esforço coletivo, tudo foi mudando. As pessoas querem se ver nas histórias. O mercado melhorou muito, mas precisamos seguir com novos questionamentos. Não vamos nos conformar, mas sim, buscar mais. A literatura não é solitária, mas coletiva”, emociona-se Jarid Arraes e me emociona também.
Quando lancei meu livro de crônicas “Não Preciso Ser Fake”, tinha vergonha de oferecê-lo, de vendê-lo. Dizia pra mim mesma: “Eu sou escritora, fica feio ficar oferecendo minha obra”. Depois eu entendi, finalmente, que é muito difícil um livro vender-se sozinho, sem editora, pior ainda. Eu demorei muito pra escrever porque eu queria ter segurança de que meu livro seria um produto que eu me orgulhasse. Primeiro eu precisava dizer isso a mim mesma. Afinal, eu compraria meu livro? Sim! Eu iria gostar de lê-lo? Com certeza! Também aprendi que um livro nunca agrada a todos, afinal, ele não é um pacote de batata frita.
Outra coisa, nós escritores fazemos um desafio dificílimo ao leitor, um livro é um convite à pausa. Quem quer parar hoje em dia, meu povo? Parar com consciência mesmo é difícil, mas não impossível.
Quando eu quis distribuir meu livro pra todo mundo (um sonho, claro) eu olhei pra minha pequeníssima biblioteca e percebi os muitos livros que ganhei e ainda estão lacrados, à espera da minha leitura, então, confirmei que, realmente, o que é dado a gente (quase sempre) deixa pra depois. Ainda tem gente que recebe meu livro de presente? Sim, gratuitamente! Mas são pessoas que eu selecionei para fazer isso, assim eu valorizo o meu livro e a minha escrita. Estou aprendendo a ser menos emocional e mais racional. Uma vez disseram que meu livro era muito caro. Depois entendi que ele foi muito caro mesmo, principalmente para eu escrevê-lo, foi muito caro pra mim transbordar e expor tudo aquilo. Ela tinha toda razão.
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Mirelle sempre precisa, cirúrgica nas reflexões propostas.