“A dramatização ultrapassou os seus limites quando o prefeito de Fortaleza disse que não sujaria suas mãos com sangue”, aponta o jornalista Nicolau Araújo. Confira:
Um Sarto como nunca se viu… Muito preocupado com a possibilidade de desabamento do edifício São Pedro, na Praia de Iracema, o prefeito de Fortaleza se apressou em garantir que possui laudos técnicos debaixo do braço e de forma imediata deu início aos primeiros trabalhos para colocar abaixo uma estrutura da história da cidade, o primeiro hotel erguido na orla da capital cearense, há 73 anos.
Dois anos e meio antes, Sarto também se apressou em impedir o tombamento do São Pedro, ao tornar sem efeito o tombamento provisório estabelecido pela Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), após aprovação em 2015 por parte do Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Fortaleza (Comphic).
Para dramatizar a sua preocupação, Sarto citou a morte de uma jovem no São Pedro, mas não revelou que se tratava de um acidente de queda envolvendo um grupo de pichadores, segundo o registro policial, ocorrência semelhante no centro de São Paulo, Campinas, Mogi das Cruzes, Curitiba e Porto Alegre nos últimos anos.
A dramatização ultrapassou os seus limites quando o prefeito de Fortaleza disse que não sujaria suas mãos com sangue…
Quanto sangue seria suficiente para Sarto perceber que a fome também faz sangrar, quando pessoas pobres do edifício Jalcy, na avenida Duque de Caxias, e de moradias simples em diversos bairros de Fortaleza deixam de comprar comida para pagar a taxa do lixo, que ainda hoje não disse a que veio, diante do lixo que se acumula em ruas e canteiros centrais de avenidas?
Quanto sangue se fez necessário para que o trabalhador pagasse o maior índice de aumento do país na tarifa de ônibus?
Quanto sangue o servidor público precisa derramar para mostrar que nem o percentual da inflação de 4.62% o prefeito Sarto conseguiu repor, ao anunciar 3.62%, além de 1% de junho a dezembro, esse último índice com base no valor antes do reajuste de janeiro. Ao final de 12 meses, o percentual será de 3.20% e não 3.62%, como Sarto quer fazer os servidores acreditarem.
Quantas mãezinhas deixaram de realizar o pré-natal, após o fechamento e a demolição do Gonzaguinha da Messejana, após o prefeito Sarto guardar debaixo de outro braço um laudo nunca apresentado do risco de desabamento da estrutura do maior hospital de referência no atendimento à mulher e à gestante?
Aliás, assim como não percebe o sangue em suas mãos da educação que não possui mais escola nota 10, da saúde que não tem medicamentos em suas unidades e nem atendimento de qualidade, da cultura que há muito não desponta talentos, do transporte público que penaliza o trabalhador com o maior índice de reajuste do país, do servidor que não tem direitos preservados, do cidadão da taxa do lixo com lixo na sua rua… Sarto também não esconde cadáveres no armário. Eles são incinerados, ora demolidos…
Nicolau Araújo é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará, especialista em Marketing Político e com passagens pelo O POVO, DN e O Globo, além de assessorias no Senado, Governo do Estado, Prefeitura de Fortaleza, coordenador na Prefeitura de Maracanaú, coordenador na Câmara Municipal de Fortaleza e consultorias parlamentares. Também acumula títulos no xadrez estudantil, universitário e estadual de Rápido