Com o título “Natal com você”, eis artigo de Alder Teixeira, professor aposentado da Uece e do IFCE, especialista em Literatura Brasileira. “Quando alguém, morando longe, abre mão da família a fim de estar com você na noite mais linda e mais doce, compartilhando o nascimento do Menino-Jesus, isso quer dizer amor”, expõe o articulista.
Confira:
Se há uma demonstração de amor que me convence, é alguém, uma vez que seja, prescindir da família para passar o Natal com você. Amigo, amiga, namorada, não importa. É alguém que veio estar ao seu lado na mais significativa das festas. Veio porque considera você alguém especial, seja o que isso for.
Li numa crônica de Martha Medeiros, em que está plasmado este texto, que a dispersão é aceitável no Ano Novo, não no Natal. Perfeito. A pressão é grande, e todos vão querer contar com você na ceia natalina, momento de confraternização que torna os corações mais gelatinosos, mais vocacionados para o perdão e mais propensos a facilitar o (re)encontro das almas, que, por alguma razão, desentenderam-se num momento qualquer do ano.
É preciso muito carinho para alguém estar com você, muitas vezes sacrificando o convívio dos familiares. Quando se mora na mesma cidade, sobretudo se numa cidade não muito grande a ponto de tornar inviáveis os deslocamentos, pode-se ir de uma casa a outra: “A gente fica na casa de seus pais até perto da meia-noite, e o resto do tempo com os meus”. E o que parecia um problema sem solução, é, de repente, pela simples força do diálogo, algo contornável. Claro que há os casos de intolerância, quando o egoísmo é maior que a razão, e a pessoa, arvorando-se merecedora de todas as renúncias, não é capaz de abrir mão de suas vontades.
“Longe da mamãe, nem pensar!” E o outro ou a outra, vai cedendo, o peito aberto em metades.
Conheço alguém que fez disso o estopim de uma separação, o relacionamento já em pedaços: “Com os meus pais ou com os seus?” Desapontado e insensível, domado pela emoção ruim, derramou sobre a mulher adjetivos que me recuso a dizer aqui. Foi a gota-d’água para a separação, que, felizmente, para a mulher, veio tarde antes que nunca. O casamento carecia de um pretexto para despencar de vez. E o espírito do Natal passara ao largo daquele coração, para quem o simbolismo da manjedoura não foi bastante para ressaltar dentro dele os bons sentimentos, os sagrados valores da renúncia e da compreensão.
Quando alguém, morando longe, abre mão da família a fim de estar com você na noite mais linda e mais doce, compartilhando o nascimento do Menino-Jesus, isso quer dizer amor. Se você, dia desses, foi ou virá a ser objeto desse amor, lembre-se de agradecer aos céus.
“Vou passar com você!”. Que bela declaração de amor.
*Alder Teixeira
Professor titular aposentado da Uece e do IFCE. Especialista em Literatura Brasileira, Mestre em Letras e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais. É autor, entre outros, dos livros Do Amor e Outros Poemas, Do Amor e Outras Crônicas, Componentes Dramáticos da Poética de Carlos Drummond de Andrade, A Hora do Lobo: Estratégias Narrativas na Filmografia de Ingmar Bergman e Guia da Prosa de Ficção Brasileira. Escreve crônicas e artigos de crítica cinematográfica.