“Natural quanto a luz do dia?” – Por Mirelle Costa

A luz natural é amplamente reconhecida como a mais bela e difícil de imitar na fotografia. Profissionais da área sabem que nenhum equipamento moderno consegue reproduzir a beleza da luz natural na fotografia com perfeição. Este conceito também se conecta ao nosso tema atual: a influência da inteligência artificial na literatura.

Voltar à “nave mãe” pode ser uma forma de colocar os pensamentos no lugar. Li os comentários de vocês no domingo passado. Foi quando lembrei o colégio que, quando eu tinha catorze anos, fez-me acreditar que eu poderia, quiçá já fosse, ser escritora, afinal, ter uma poesia selecionada entre milhares de outras em toda a escola e depois publicada em uma coletânea é encorajador. Fiquei felicíssima quando soube que o projeto segue vivíssimo até hoje. Recordei a emoção de um texto genuino eternizado no papel. Acredite, guardo minha poesia publicada até hoje com aquele pertencimento que somente um escritor pode entender.

A escrita que me libertou já foi refúgio. Fecho os olhos e consigo lembrar a criança tímida, com o cabelo cacheado não assumido, a esconder-se na biblioteca Horácio Dídimo. No recreio, não arriscava jogar nem pedra na lua. Sentava nos puffs coloridos e devorava os livros da biblioteca. No final do ano, quanta hipocrisia! A menina que não se sentia muito à vontade com os olhares alheios, enfrentava a escola inteira para ler o texto da festa de fim de ano. E lia bem direitinho, viu? A escrita e a leitura que escancaravam-me em uma plateia com centenas de ouvintes já me habitavam desde cedo e eu custei a perceber. Minha escola me deu a oportunidade de entender onde eu me encaixava e onde sentia pertencimento. Era ali, nos caixotes arrumadinhos, no meio dos livros, que eu escolhia crescer. Ganhei medalhas (que guardo até hoje) pela quantidade de livros que eu lia durante o ano. Sou grata demais! E sabe porque uma medalha é tão valorosa? Naqueles momentos em que duvidamos de nós mesmos, ela nos faz lembrar do que conquistamos ao longo da vida. Porque os tropeços e fracassos são sempre inesquecíveis, mas as nossas vitórias a gente parece esquecer, aos poucos, na vida de adulto. Aliás, ensinam-nos que ser adulto é justamente fingir costume de nossas conquistas. Se expõe, tá “se achando”’; se mostra, não tem humildade. Orientam-nos a enterrar nossa história. Não, minha gente! Ser adulto é ter certeza de Si (com S maiúsculo mesmo). É entender que orgulhar-se é diferente de envaidecer-se. Humildade é ter a oportunidade de retribuir, pro mundo, o bem que você, um dia, recebeu.

Fui aluna bolsista e, acredito, ter retribuído a oportunidade que me foi dada no momento em que eu e minha família mais precisávamos. Assim como o esporte, a literatura também pode mudar vidas. Parabéns aos medalhistas olímpicos, como Rebeca, Beatriz, Caio, Tatiana, William, Larissa, Bia, Gabriel, Rayssa e à escritora cearense Marília Lovatel, vencedora da vigésima edição do Prêmio Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil com o livro “Salvaterra – Breve Romance de Coragem”.

Iniciativas do Colégio Farias Brito para promover a leitura

Para incentivar o hábito da leitura e, consequentemente, o da escrita, o Colégio Farias Brito criou a Academia Jovem de Letras do Farias Brito. 

A entidade cultural foi fundada em setembro de 2019. Entre os patronos, estão Airton Monte, jornalista e cronista; Alba Valdez,  jornalista e escritora; Antônio Girão Barroso, escritor e jornalista; Antônio Sales, escritor; Arthur Eduardo Benevides, poeta; Carlos D’Alge, professor e escritor; Cláudio Martins,  advogado, professor e poeta; Eduardo Campos, escritor e dramaturgo;  Francisco Souza Nascimento, jornalista e poeta; Gustavo Barroso, escritor; Hermenegildo de Sá Cavalcante, jornalista e escritor; Horácio Dídimo, professor e poeta; Jacques Klein, concertista e professor;  José de Alencar, escritor; Leonardo Mota, poeta folclorista; Moreira Campos, contista; Natércia Campos, escritora; Nadir Saboya, atriz e poeta; Oliveira Paiva, escritor; Otacílio Colares, poeta; Padre Quinderé, padre e escritor; Patativa do Assaré, poeta; Pedro Paulo Montenegro, jornalista e escritor e Régis Jucá, médico e escritor. 

“A literatura, entendida como arte da palavra e produto da imaginação criadora, representa um desafio para a inteligência artificial, que até o momento apenas recria a partir de informações de origem humana ou de modelos prontos. O componente humano, marcado pela emoção, a imprevisibilidade e a originalidade, é fundamental para a criação literária de bom nível. Contudo, a inteligência artificial pode, sim, ser uma poderosa aliada na produção artística e na formação e otimização de leitores. Um exemplo disso está na iniciativa do Colégio Farias Brito que, integrando tecnologia avançada à educação, adotou a Plataforma de Leitura Elefante Letrado para alunos de 3 e 4 anos, fazendo-os aumentar a fluência leitora de forma eficaz e inovadora”, explica Sousa Nunes, professor de redação, literatura e inglês, chefe do Departamento de Linguagens do colégio Farias Brito  e membro da Academia Cearense da Língua Portuguesa. 

Professor Sousa Nunes aponta caminhos possíveis, que tornam a inteligência artificial nossa aliada sem nos tornarmos reféns. Ninguém está a salvo! Eu mesma, toda semana, ao escrever esta coluna, sempre dou trabalho pra Maria (profissional que trabalha no blog do Eliomar) que me orienta a utilizar técnicas de SEO para que minha coluna seja mais vista por você, leitor. O chat GPT me explica ser importante considerar alguns aspectos, como o uso de palavras-chave relevantes, cabeçalhos claros, links internos e externos, e uma linguagem que engaje o leitor. Quem manda no meu texto sou eu, IA, desculpa, tá? Aliás, desculpa não, porque você nem tem sentimentos (hahaha), mas algumas dicas são bem-vindas.

A integração da Inteligência Artificial na compreensão textual

Outra iniciativa do Colégio Farias Brito é um projeto de acompanhamento do processo de leitura oral por meio de inteligência artificial. A compreensão leitora ainda é um desafio para crianças e adultos no Brasil. Com o objetivo de ampliar a perspectiva de avaliação da leitura dos alunos, a escola criou o teste de fluência leitora, ao fazer  uso da inteligência artificial aplicada à educação, utilizando a Plataforma de Leitura Elefante Letrado. “O mecanismo para avaliação da fluência da leitura oral associa pedagogia, neurociências e tecnologia da informação. O Núcleo de Pesquisa & Desenvolvimento, formado por pesquisadores do ensino da leitura, professores, desenvolvedores sênior e pesquisadores em informática, com especialização em inteligência artificial, delimitaram inicialmente como foco investigativo da pesquisa identificar evidências que, na perspectiva de análise de professores reais, definem o grau de fluência leitora de estudantes da educação básica. Ao analisar critérios como velocidade, proporção de erros e acertos na leitura oral de um texto e entonação, a nova tecnologia auxiliará nossos professores no acompanhamento da evolução da fluência de leitura dos alunos e será de grande impacto na dinâmica do ensino e da aprendizagem em nossa instituição”, explica o professor Marcelo Pena, diretor de ensino do colégio Farias Brito.

Como o professor Tales de Sá Cavalcante sabiamente disse: “Que a bola não seja substituída pelo botão do computador. Que as letras sejam brinquedo aos jovens de hoje e de amanhã”. A literatura e a educação continuam a desempenhar papéis cruciais na formação de indivíduos e na valorização do conhecimento.

Dando voz àquela Mirelle criança que ainda mora aqui (ainda bem), e que via sua mãe, todos os anos, ir à sala da diretoria pedir uma bolsa de estudos para a filha, eu digo ao professor Tales: Obrigada por tudo, “Tio”.

Mirelle Costa: Mirelle Costa e Silva é jornalista, mestre em gestão de negócios e escritora. Atualmente é estrategista na área de comunicação e marketing. Possui experiência como professora na área de jornalismo para tevê e mídias eletrônicas. Já foi apresentadora, produtora, editora e repórter de tevê, além de colunista em jornal impresso. Possui premiações em comunicação, como o Prêmio Gandhi de Comunicação (2021) e Prêmio CBIC de Comunicação (2014). Autora do livro de crônicas Não Preciso ser Fake, lançado na biblioteca pública do Ceará, em 2022. Participou como expositora da Bienal Internacional do Livro no Ceará, em 2022.

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