A luz natural é amplamente reconhecida como a mais bela e difícil de imitar na fotografia. Profissionais da área sabem que nenhum equipamento moderno consegue reproduzir a beleza da luz natural na fotografia com perfeição. Este conceito também se conecta ao nosso tema atual: a influência da inteligência artificial na literatura.
Voltar à “nave mãe” pode ser uma forma de colocar os pensamentos no lugar. Li os comentários de vocês no domingo passado. Foi quando lembrei o colégio que, quando eu tinha catorze anos, fez-me acreditar que eu poderia, quiçá já fosse, ser escritora, afinal, ter uma poesia selecionada entre milhares de outras em toda a escola e depois publicada em uma coletânea é encorajador. Fiquei felicíssima quando soube que o projeto segue vivíssimo até hoje. Recordei a emoção de um texto genuino eternizado no papel. Acredite, guardo minha poesia publicada até hoje com aquele pertencimento que somente um escritor pode entender.
A escrita que me libertou já foi refúgio. Fecho os olhos e consigo lembrar a criança tímida, com o cabelo cacheado não assumido, a esconder-se na biblioteca Horácio Dídimo. No recreio, não arriscava jogar nem pedra na lua. Sentava nos puffs coloridos e devorava os livros da biblioteca. No final do ano, quanta hipocrisia! A menina que não se sentia muito à vontade com os olhares alheios, enfrentava a escola inteira para ler o texto da festa de fim de ano. E lia bem direitinho, viu? A escrita e a leitura que escancaravam-me em uma plateia com centenas de ouvintes já me habitavam desde cedo e eu custei a perceber. Minha escola me deu a oportunidade de entender onde eu me encaixava e onde sentia pertencimento. Era ali, nos caixotes arrumadinhos, no meio dos livros, que eu escolhia crescer. Ganhei medalhas (que guardo até hoje) pela quantidade de livros que eu lia durante o ano. Sou grata demais! E sabe porque uma medalha é tão valorosa? Naqueles momentos em que duvidamos de nós mesmos, ela nos faz lembrar do que conquistamos ao longo da vida. Porque os tropeços e fracassos são sempre inesquecíveis, mas as nossas vitórias a gente parece esquecer, aos poucos, na vida de adulto. Aliás, ensinam-nos que ser adulto é justamente fingir costume de nossas conquistas. Se expõe, tá “se achando”’; se mostra, não tem humildade. Orientam-nos a enterrar nossa história. Não, minha gente! Ser adulto é ter certeza de Si (com S maiúsculo mesmo). É entender que orgulhar-se é diferente de envaidecer-se. Humildade é ter a oportunidade de retribuir, pro mundo, o bem que você, um dia, recebeu.
Fui aluna bolsista e, acredito, ter retribuído a oportunidade que me foi dada no momento em que eu e minha família mais precisávamos. Assim como o esporte, a literatura também pode mudar vidas. Parabéns aos medalhistas olímpicos, como Rebeca, Beatriz, Caio, Tatiana, William, Larissa, Bia, Gabriel, Rayssa e à escritora cearense Marília Lovatel, vencedora da vigésima edição do Prêmio Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil com o livro “Salvaterra – Breve Romance de Coragem”.
Iniciativas do Colégio Farias Brito para promover a leitura
Para incentivar o hábito da leitura e, consequentemente, o da escrita, o Colégio Farias Brito criou a Academia Jovem de Letras do Farias Brito.
A entidade cultural foi fundada em setembro de 2019. Entre os patronos, estão Airton Monte, jornalista e cronista; Alba Valdez, jornalista e escritora; Antônio Girão Barroso, escritor e jornalista; Antônio Sales, escritor; Arthur Eduardo Benevides, poeta; Carlos D’Alge, professor e escritor; Cláudio Martins, advogado, professor e poeta; Eduardo Campos, escritor e dramaturgo; Francisco Souza Nascimento, jornalista e poeta; Gustavo Barroso, escritor; Hermenegildo de Sá Cavalcante, jornalista e escritor; Horácio Dídimo, professor e poeta; Jacques Klein, concertista e professor; José de Alencar, escritor; Leonardo Mota, poeta folclorista; Moreira Campos, contista; Natércia Campos, escritora; Nadir Saboya, atriz e poeta; Oliveira Paiva, escritor; Otacílio Colares, poeta; Padre Quinderé, padre e escritor; Patativa do Assaré, poeta; Pedro Paulo Montenegro, jornalista e escritor e Régis Jucá, médico e escritor.
“A literatura, entendida como arte da palavra e produto da imaginação criadora, representa um desafio para a inteligência artificial, que até o momento apenas recria a partir de informações de origem humana ou de modelos prontos. O componente humano, marcado pela emoção, a imprevisibilidade e a originalidade, é fundamental para a criação literária de bom nível. Contudo, a inteligência artificial pode, sim, ser uma poderosa aliada na produção artística e na formação e otimização de leitores. Um exemplo disso está na iniciativa do Colégio Farias Brito que, integrando tecnologia avançada à educação, adotou a Plataforma de Leitura Elefante Letrado para alunos de 3 e 4 anos, fazendo-os aumentar a fluência leitora de forma eficaz e inovadora”, explica Sousa Nunes, professor de redação, literatura e inglês, chefe do Departamento de Linguagens do colégio Farias Brito e membro da Academia Cearense da Língua Portuguesa.
Professor Sousa Nunes aponta caminhos possíveis, que tornam a inteligência artificial nossa aliada sem nos tornarmos reféns. Ninguém está a salvo! Eu mesma, toda semana, ao escrever esta coluna, sempre dou trabalho pra Maria (profissional que trabalha no blog do Eliomar) que me orienta a utilizar técnicas de SEO para que minha coluna seja mais vista por você, leitor. O chat GPT me explica ser importante considerar alguns aspectos, como o uso de palavras-chave relevantes, cabeçalhos claros, links internos e externos, e uma linguagem que engaje o leitor. Quem manda no meu texto sou eu, IA, desculpa, tá? Aliás, desculpa não, porque você nem tem sentimentos (hahaha), mas algumas dicas são bem-vindas.
A integração da Inteligência Artificial na compreensão textual
Outra iniciativa do Colégio Farias Brito é um projeto de acompanhamento do processo de leitura oral por meio de inteligência artificial. A compreensão leitora ainda é um desafio para crianças e adultos no Brasil. Com o objetivo de ampliar a perspectiva de avaliação da leitura dos alunos, a escola criou o teste de fluência leitora, ao fazer uso da inteligência artificial aplicada à educação, utilizando a Plataforma de Leitura Elefante Letrado. “O mecanismo para avaliação da fluência da leitura oral associa pedagogia, neurociências e tecnologia da informação. O Núcleo de Pesquisa & Desenvolvimento, formado por pesquisadores do ensino da leitura, professores, desenvolvedores sênior e pesquisadores em informática, com especialização em inteligência artificial, delimitaram inicialmente como foco investigativo da pesquisa identificar evidências que, na perspectiva de análise de professores reais, definem o grau de fluência leitora de estudantes da educação básica. Ao analisar critérios como velocidade, proporção de erros e acertos na leitura oral de um texto e entonação, a nova tecnologia auxiliará nossos professores no acompanhamento da evolução da fluência de leitura dos alunos e será de grande impacto na dinâmica do ensino e da aprendizagem em nossa instituição”, explica o professor Marcelo Pena, diretor de ensino do colégio Farias Brito.
Como o professor Tales de Sá Cavalcante sabiamente disse: “Que a bola não seja substituída pelo botão do computador. Que as letras sejam brinquedo aos jovens de hoje e de amanhã”. A literatura e a educação continuam a desempenhar papéis cruciais na formação de indivíduos e na valorização do conhecimento.
Dando voz àquela Mirelle criança que ainda mora aqui (ainda bem), e que via sua mãe, todos os anos, ir à sala da diretoria pedir uma bolsa de estudos para a filha, eu digo ao professor Tales: Obrigada por tudo, “Tio”.