Leitor do Blog homenageia demais leitores com poema “Negra Travessia”, de Manuel da Fonseca. Confira:
No porão de navios acorrentados
Por serpente de ferro retorcido,
Gente negra, corpos amontoados,
Cansaço, fome e dor, entorpecidos,
Por seus brancos carrascos violentados,
Sujeitados, humilhados, rendidos.
De sua terra africana arrebatados
Por corsários de embarcações negreiras,
Como animais de carga açoitados,
Se reagem a esta sorte traiçoeira.
Ao mar, os moribundos são lançados,
As águas sua morada derradeira.
Por que este domínio sanguinário,
A ferro e fogo em mãos tão tiranas?
Por que o negro vive seu calvário
Longe do lar e de suas savanas?
Por que o branco tem poder tão vário
Que destrói corpos e a alma humana?
Poder do capital escravagista,
Moendo cana e gente na senzala,
Açucar amargo da brutal conquista,
De gente livre que é feita vassala,
Por senhores brancos e racistas,
Que o coração dos negros apunhala.
Manuel da Fonseca (1911 – 1993), poeta