“Neoludismo: Preconceito Arcaico” – Por Nizomar Falcão

Nizomar Falcão é engenheiro agrônomo

“É inverossímil convencer os jovens agricultores a continuarem no meio rural praticando a atividade de seus ancestrais”, aponta o engenheiro agrônomo Nizomar Falcão

Confira:

Noventa por cento dos estabelecimentos agrícolas do Ceará possuem menos de dez (10) hectares. É praticamente impossível viver com qualidade de vida, no semiárido, nessas pequenas glebas, se a esses empreendedores não lhes for permitido acessar tecnologias: insumos para produção, pequenas máquinas e equipamentos agrícolas notadamente -, em tempos de mudanças climáticas.

Por outro lado, existe um Neoludismo que devemos divergir, visto que é inverossímil convencer os jovens agricultores a continuarem no meio rural praticando a atividade de seus ancestrais, usando ferramentas arcaicas. O combate ao Neoludismo entendido neste contexto como a resistência ou rejeição à adoção de tecnologias e pequenas máquinas agrícolas por alguns segmentos sociais é fundamental para que se consiga o aumento da produção e produtividade nos pequenos estabelecimentos agrícolas do Semiárido, especialmente diante dos desafios impostos pela crise climática. A mecanização leve e adaptada é uma ferramenta crucial para transformar a agricultura de subsistência em um modelo mais resiliente, sustentável e economicamente viável.

O Neoludismo é um desserviço ao aumento da produtividade e mitigação do risco climático, na medida em que, o uso de pequenas máquinas agrícolas (motocultivadores, plantadeiras tracionadas, microtratores etc.) é essencial para acelerar e otimizar o trabalho, em uma região onde o tempo para plantar e colher é um recurso escasso e caro. A otimização do tempo de plantio (janela de chuva), no Semiárido é imprescindível, visto que, as chuvas são rápidas e imprevisíveis (secas-relâmpago).

A agricultura familiar precisa plantar e colher dentro de um lapso de tempo muito estreito. A mecanização leve permite preparar a terra e plantar rapidamente após a primeira chuva, garantindo que as sementes se estabeleçam antes que um novo período seco se instale. O trabalho braçal não consegue competir com essa velocidade. Outro ponto importante é a melhoria do manejo do solo. Pequenas máquinas são vitais para implementar a Agricultura Regenerativa. Elas possibilitam o plantio direto ou o cultivo mínimo, reduzindo o revolvimento excessivo do solo. Isso conserva a umidade e a matéria orgânica, tornando a terra mais resistente à erosão e à desertificação e, finalmente, o aumento da área cultivada. O esforço físico é o maior limitador da área que uma família pode cultivar. Máquinas aumentam a capacidade produtiva da família sem aumentar a mão de obra, liberando tempo para outras atividades (como o artesanato, agroturismo etc.), que complementam a renda e fortalecem o Reciprocidalismo (modelo de progresso econômico e social, defendido pelo autor – objeto da sua Tese de Doutoramento -, que se baseia nas trocas comunitárias e nas raízes humanistas da atividade econômica, fugindo da dicotomia simplista entre Estado e Mercado).

Nizomar Falcão é PhD em Antropologia da Contemporaneidade pela Universidade de Milão-Biccoca (2014); Mestre em Agronomia (Fitotecnia) pela Universidade Federal Rural do Semiárido (1990); Especialista em Irrigação e Drenagem pela Universidade Federal da Paraíba (1984); especialista em Gestão Pública pela Universidade Estadual do Ceará – UECE; Graduado em Agronomia pela Escola Superior de Agronomia de Mossoró – ESAM (1978)

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