“O que dói é a insegurança para levar a vida, a inconstância do trabalho, a anulação de direitos sociais, os abusos morais que nos invadem os dias”, aponta a jornalista e publicitária Tuty Osório
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As receitas contra os lutos diversos destes tempos multiplicam-se em perfis e canais das mídias sociais. Não repercutem nas rodas de conversa porque não as há mais. Ou acontecem de outro modo. Em fuga da profundidade, a troca compõe-se de meia dúzia de frases já catalogadas e abre a etapa dos comentários sobre a vida alheia – até a política virou mote de fofoca, humor de mau gosto, toscas conclusões. Pra não levar a pecha de ser ranzinza, negativa, baixa energia, passo a outro assunto, que é semelhante, sem ser o mesmo.
Pois é. Não folgo em sentir angústia. Sei de amigas e amigos que também não. Não é a dor na lombar, o ombro sobrecarregado, a proliferação de neuropatias – mazela da moda com direito a doses exuberantes de Pregabalina que não conheço pessoalmente contudo, ouço falar constantemente. O que dói é a insegurança para levar a vida, a inconstância do trabalho, a anulação de direitos sociais, os abusos morais que nos invadem os dias. Sem nostalgia do passado, não foi sempre assim. Claro que havia pressões, carga horária excedida, desigualdade de oportunidades. Condições injustas, ainda sem a crueldade à qual chegamos.
Antes, como agora, é na arte que encontramos a vereda de cores a acenar com o alívio. Como antes, a arte não é respeitada como um ofício, sendo vista como derivativo, leviandade, covardia, preguiça. Tentando convencer-me que os que assim creem não sabem o que fazem, agarro-me aos que me veem e dividem comigo a cruz e a luz de criar e expressar. *Tem união, sim, tem coletivo, tem famílias de artistas em caravana por aí. Como diz a moça, a vida presta, e muito! As mãos estão dadas, apertadas, firmes, se trêmulas é de emocionada alegria. Vamos que vamos!
* Esta crônica é uma homenagem aos que criam e aos que recebem a arte em todas as suas expressões. Gratidão!
Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS. Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais