“Me tornei mãe, agora eu que recebo as cartinhas e músicas”, aponta a pedagoga Cynthia Rabelo. Confira:
Mês de maio sempre foi um mês que me deixava feliz. Seja por ser o mês de Maria, o mês das mães ou por anteceder o são João.
Nascida em berço católico, desde tenra idade celebrava a coroação de Nossa Senhora. E para tal evento, tinha novenas, ensaios dos anjinhos e dos três pastorezinhos. Lembro de ser muito divertido tantas crianças ensaiando para a coroação.
E maio também é o mês das mães. Filha de professora, antes mesmo de estar regularmente matriculada, já participava das comemorações da escola onde minha mãe trabalhava. Fazíamos apresentações enaltecendo nossas mães, ao final, sempre entregávamos um cartão feito em papel vermelho e em formato de coração, tudo com muita singeleza.
E pra maio ainda ser melhor, era o mês que começavam os ensaios de quadrilhas e outras danças juninas, como era bom!
E assim, fui crescendo e percebendo que nem tudo é alegria. Quantas crianças não tinham para quem se apresentar e entregar o coraçãozinho de papel vermelho. Isso me incomodava, mas eu ainda tinha para onde ir ou para quem ligar. O presente já não era mais versinhos e cartões.
Me tornei mãe, agora eu que recebo as cartinhas e músicas.
Também não me visto mais de anjinho, nem frequento templos, muita gente, prefiro continuar minha devoção no sossego e na calma, que pode ser no meu lar, na natureza ou onde me sinta em paz.
Quanto ao dia das mães, há oito anos no dia 8 de maio, aos 47 do meu tempo, me tornei órfã. E fiz a mesma pergunta da canção: “E agora, que faço eu da vida sem você?” Ninguém nos ensina sobre partidas.
Minha mãe, é bem verdade, sempre estará comigo através dos ensinamentos, que foram: “seja gentil, sempre auxilie quem precisa, e respeite todas as criaturas.”
E agora, minhas filhas me acordam com beijos, abraços, mimos e me lembrando que: “sou luz, raio, estrela e luar. Manhã de domingos ensolarados.”
Não somos imortais, mas muitas vezes vivemos como se fôssemos e tivéssemos todo o tempo do mundo. Hoje, com a crise climática e outras mazelas do capitalismo, até nosso mundo parece não ter mais muito tempo. A vida é isso, um processo, uma roda que gira e nos ensina que não temos controle sobre tudo, mas que devemos aproveitar cada alegria e demonstração de amor.
Cynthia Rabelo é pedagoga, contadora de histórias e, atualmente, mora em São Luís (MA)
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Agora ela não se veste mais de anjo, ela busca ser um anjo na vida das pessoas.
Interessantes reflexões.