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“Nós, diante do infortúnio”

Professor João Teles. Foto: Reprodução

“A morte assombra. Quando não os pais, são os professores a lidar com as narrativas, cheias de medo, que a molecada leva para a sala de aula”, aponta o professor e historiador João Teles de Aguiar.

Confira:

A morte, quando se apresenta em nosso meio, não se permite frivolidades e rapidamente se apodera de quem quer que seja. Seja uma figura de grande fortuna ou alguém de posses modestas, sua chegada é infalível e implacável. Ela não faz escolhas e leva consigo, sem pudor, tanto indivíduos célebres como Silvio Santos quanto ícones do cinema internacional, como Alain Delon. Este último, uma lenda do cinema, se vê igualmente vulnerável diante da inexorável atuação da morte. Com ela, não existem espaços para sutilezas ou romantismos; sua comunicação é brusca e direta. Quando o sino toca, a chance de se despedir ou comunicar-se se esvai, não oferecendo a possibilidade de aviso prévio — nem mesmo um e-mail ou mensagem de texto.

Famosamente (e ricamente) retratada na Literatura Popular, a morte é frequentemente personificada, como uma figura austera e cruel, uma megera, cuja origem permanece em mistério, mas que avança, com determinação e sem espaço, para qualquer tipo de negociação. Assim é que ela aparece nos livretos de cordel, por exemplo, onde os poetas carregam nas tintas, para demonstrar o seu e o nojo do povo, diante da figura horrenda, que nos tira da vida e da longevidade. Quem ela pensa que é, para querer mandar mais de que Deus?

No teatro também, se tem as peças e esquetes, onde a Mulher da Foice aparece sempre, com cara de quem quer levar alguém, catando entre os desafortunados, quem não terá sua simpatia. Quando chega onde estamos, essa figura antipática, nos impõe o medo e sua retidão nervosa, para nos garrotear, sob seus caprichos. Se até nos adultos e idosos, ela assombra, imagine no seio da criançada, que é bem mais criativa, para imaginar, criar, inventar… A meninada, claro, chega a ter sonhos horríveis, com aquela criatura; os pais, quando acordem as crianças, claro, apelam para a religiosidade, para a espiritualidade, para retirar as crianças, do temível pesadelo.

A morte assombra. Quando não pais, são os professores a lidar com as narrativas, cheias de medo, que a molecada leva para a sala de aula; ali entre depoimentos e textos encomendados pelos mestres, o clamor de quem passou por momentos oníricos, nada agradáveis. É a vida, que nos impõe momentos bons, leves… e outros, nem tanto!

João Teles de Aguiar é professor, historiador e integrante do Projeto Confraria de Leitura

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