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“O alicerce enverga, mas ninguém quer ver” – Por Maurício Filizola

Maurício Filizola é empresário e diretor do Sincofarma/CE

“O mais perigoso é que começamos a defender justamente aquilo que antes denunciávamos. Quando o anormal se repete, ele deixa de causar espanto”, aponta o empresário Maurício Filizola

Confira:

Era uma vez uma casa grande. De portas abertas, janelas largas, bandeira hasteada na fachada e vozes que ecoavam dizendo que ali morava a democracia. Foi erguida com suor, luta e sangue. Tijolo por tijolo, assentados por gerações que sonharam com liberdade, justiça e igualdade. Mas, aos poucos — e quase sempre de forma silenciosa — os pilares começaram a trincar.

Não houve um estrondo, nem um terremoto. Só o tempo… e o desvio. Uma regra dobrada “só dessa vez”. Uma exceção aceita “por uma boa causa”. Um privilégio mantido “porque sempre foi assim”. E quando alguém ousava apontar as rachaduras no concreto da república, a resposta era sempre a mesma: “Ah, mas é o Brasil, né?”

A verdade é que fomos normalizando o desvio. Como quem vê a parede entortar e, ao invés de reforçar a estrutura, pinta por cima para disfarçar. Como quem sente o piso afundar e joga um tapete novo por cima. E assim seguimos — maquiando os sintomas, ignorando as causas.

Mentiras políticas ganharam o status de “narrativas estratégicas”. Corrupções viraram “falhas de comunicação”. Grossura passou a ser chamada de “autenticidade”. E incompetência virou sinônimo de “gestão fora da caixa”. Aos poucos, o povo — esse mesmo que um dia marchou pela redemocratização — foi se acostumando. E o que era inaceitável passou a ser… cotidiano.

O mais perigoso é que começamos a defender justamente aquilo que antes denunciávamos. Quando o anormal se repete, ele deixa de causar espanto — e passa a ser normal. Um país que defende a impunidade de seus ídolos, que elege quem deveria estar se explicando, e que aplaude quem ataca as instituições, caminha com os olhos vendados rumo ao abismo.

Nossas instituições, que deveriam ser colunas mestras dessa casa chamada Brasil, também deram sinais de fadiga. O Judiciário, confundido com palanque. O Legislativo, convertido em balcão. O Executivo, muitas vezes mais preocupado em apagar incêndios do que em construir caminhos. E no meio disso, o povo… ajustando o sofá, pendurando quadros tortos para disfarçar a parede torta.

Mas não deveríamos nos acostumar. Não deveríamos jamais achar que “é assim mesmo”. Porque cada desvio aceito cria um novo padrão. E quando o padrão é torcido, a ética vira miragem, a justiça se torna seletiva e o mérito vira motivo de desconfiança.

O Brasil corre o risco de se tornar uma casa bela só na pintura. Com discursos de progresso, mas alicerces corroídos pela indiferença. E casa que se mantém em pé apenas na aparência, um dia cai — e quando cair, cairá sobre todos.

Se quisermos reconstruir, será preciso coragem. Para encarar as rachaduras. Para refazer os alicerces. Para lembrar que democracia não se pinta — se sustenta.

Porque quando a estrutura enverga e ninguém reage, não é a casa que desaba…
É a esperança que sai pela porta dos fundos.

Mauricio Filizola é empresário e diretor do Sincofarma

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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