Categorias: Opinião

“O amor acaba” – Por Tuty Osório

Tuty Osório é jornalista, publicitária e escritora

“Não vivam nem mais um minuto sem ler o Amor Acaba”, aponta a jornalista, escritora e publicitária Tuty Osório

Confira:

Diz Paulo Mendes Campos, o cronista do século XX, numa das mais belas prosas poéticas que já li. Escreve ele como, quando e onde o amor acaba. Não diz sobre o porquê. Porque não quis dizer. Porque não sabia. Ou porque , o amor, talvez, não acabe. Não acabe de verdade. Não acabe para sempre. Não acabe totalmente. Pois haverá, sempre, a memória do amor. O amor que muitas vezes acaba onde, como e quando nem devia ter começado. E porque não devia ter começado, acaba o amor. Um amor que podia ter sido sereno e ao mesmo tempo um desbravador de descobertas que não tiveram lugar em outro amor. O amor acaba na solidão dos dias, acaba na impossibilidade de voltar a ser amor. Acaba na recusa inconsciente da renovação do pacto. Acaba escondido na capa de falsos amores.

O amor acaba na sordidez e no que pode haver de mais sublime. Uma carta que chegou depois, uma carta que chegou antes. E o amor acaba. Acaba com um gesto. Pela falta de um gesto. Por palavras demais .Por não existirem palavras. Pode acabar mesmo antes de começar. Acabar no medo do amor. Apesar do medo da sua falta. Chega o esboço do amor e imediatamente é abatido pela espada do medo. A inanição do medo. O medo, senhor de todas as prudências, acaba o amor. Por falta de merecimento, apatia, angústia, não há sequer amor para começar. Acabam ou ficam no limbo do esquecimento, os amores que foram confundidos com outros sentimentos e é uma forma de acabar. No depósito das coisas que antes foram vitrine, ou nunca foram, repousa o amor acabado. Empoeirado. Sem energia até para lamentar ter acabado.

Paulo Mendes Campos, ao vivo, conta melhor: “(…) o amor acaba na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas(…); no coração que se dilata e quebra e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que cobre o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que permanece reverberando sem razão, até que alguém humilde o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fosse melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na vaidade; no álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer hora, o amor acaba.”

Não vivam nem mais um minuto sem ler o Amor Acaba, Paulo ao vivo, nas melhores livrarias, físicas e virtuais. Em sites, nas estantes dos amigos. Leiam. Sob pena de não acabar essa maldição que acaba com o amor. Mesmo que você não queira. A despeito de você. O amor acaba, ou não acaba se a gente não acabar com o amor. Mestres como Paulo Mendes Campos, não só salvam o amor pela contradição de necrológio bordado em lirismo, como enlevam, podem até fazer enlouquecer. Nas imagens de seu tempo. Por esses, como ele, é que refaço palavras, pedindo sempre licença a quem lê.

Obrigada por me abrirem a porta.

Tuty Osório

É jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS. Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Esse website utiliza cookies.

Leia mais