“Aqui, a vítima rifada, desespera-se, chora, sozinha, entregue à própria sorte, como as vítimas dos estelionatos da vida”, aponta o historiador João teles. Confira:
Veja isso: “Um dia, o burro de um camponês caiu em um poço. Não chegou a se ferir, mas não podia sair dali, por conta própria. Por isso o animal chorou, fortemente, durante horas, enquanto o camponês pensava no que fazer.”
Lá vem o golpe, contra o pobre animal, como se fosse em um Brasil, que faz cruzetas e negociatas, de todos os naipes, pra poupar a família, inclusive. Coisa normal por aqui, até dentro dos palácios. E segue o jogo sujo, do dono do poder:
“Finalmente, o camponês tomou uma decisão cruel: concluiu que já que o burro estava muito velho e que o poço estava mesmo seco, precisaria ser tapado de alguma forma.”
Aqui, entra o tão propalado e pouco atacado etarismo. Pra que velho na vida? Ou a gente constrói um quartinho pra ele, no fim do quintal ou torce pelo seu fim. Velho é incômodo, é trambolho.
E segue a narrativa macabra:
“(…) não valia a pena se esforçar, para tirar o burro de dentro do poço. Ao contrário, chamou seus vizinhos, pra enterrar o burro, vivo.”
Aqui, entram os aliados, os comparsas, os assessores do mal. Ou, no caso brasileiro, os partidários. Todos bem diligentes:
“Cada um deles pegou uma pá e começou a jogar terra, dentro do poço. O burro não tardou a se dar conta do que estavam fazendo com ele e chorou, desesperadamente.”
Aqui, a vítima rifada, desespera-se, chora, sozinha, entregue à própria sorte, como as vítimas dos estelionatos da vida. Que ocorre, inclusive, nas agremiações partidárias, tão cheias de “verdades”, em seus estatutos e programas. Mas vem a reação do oprimido, para a surpresa do opressor, que se acha acima do bem e do mal:
“Porém, para surpresa de todos, o burro aquietou-se, depois de umas tantas pás de terra, que levou. O camponês finalmente olhou para o fundo do poço e se surpreendeu, com o que viu. A cada pá de terra que caía, sobre suas costas, o burro a sacudia, dando um passo, sobre esta mesma terra, que caía ao chão.”
A vítima solitária, aprende, na dificuldade, a se sair da sinuca de bico, em que se meteu e da mente doentia, de quem queria seu fim, já que seu ocaso seria a festa daquele a quem tanto serviu. Mas, o alívio veio:
“Assim, em pouco tempo, todos viram como o burro conseguiu chegar até a boca do poço, passar por cima da borda e sair dali, trotando!”
O bem, enfim, venceu o mal e, como no Brasil de ontem e de hoje, às vezes, o mal saiu-se derrotado, golpeado, abatido.
Ainda bem. Que o futuro nos seja mais promissor!
João Teles de Aguiar é professor e historiador
Ver comentários (2)
Muito bom, professor João Teles! Da fábula, extrai-se, para a nossa realidade, tudo isso que você falou.
Gostei da relação entre a fábula e a nossa realidade política no Brasil!