Com o título “O caminho para a felicidade”, eis artigo de Djalma Pinto, escritor, professor e ex-procurador-geral do Estado do Ceará. “Viver em permanente ameaça de assalto não pode ser o destino de um povo ao qual a natureza reservou todos os meios para desfrutar do paraíso na terra”, expõe o articulista.
Confira:
Em seu pequeno manual sobre ansiedade social, anotou Mita Mistry: “Tal como os medicamentos antidepressivos, mostrar bondade desencadeia a liberação de serotonina. Este hormônio do bem-estar é calmante, deixa a pessoa feliz e cura a dor. Pessoas altruístas relatam níveis mais elevados de felicidade, graças ao que é conhecido como “euforia de quem ajuda” – mostrar bondade para com os outros ativa
os centros de recompensa e prazer do cérebro”.
Em 1776, Thomas Jefferson escreveu na Declaração de Independência da América: “Todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade”.
No século XXI, os cientistas comprovaram que as boas ações turbinam o cérebro para produzir sensação de bem-estar. Uma questão, porém, precisa ser esclarecida. Por que, ao invés de se ajudarem uns aos outros para buscarem a felicidade, muitos assaltam e matam? Provocam pânico, dor, infelicitando a vida das pessoas no seu entorno?
Como explicar tanto desapreço pela vida do ser humano, tantos escândalos de corrupção e crescente ansiedade social? Paradoxalmente, essa marca infamante da sociedade contemporânea se propaga na época em que o Direito vigente exige, expressamente, solidariedade, boa-fé objetiva, justiça e respeito à liberdade. Exalta a importância de cada pessoa se colocar no lugar da outra para efetividade dos direitos humanos e observância dos deveres do indivíduo em relação aos outros.
Múltiplas podem ser as explicações. Uma, entretanto, tem particular relevância: a falta de preocupação com a infância. Nesta, reside o alicerce da cidadania. A base para uma convivência social pacífica. A família e a escola exercem um papel fundamental no bom encaminhamento das pessoas, facilitando os seus passos em busca da felicidade. É que os bons valores, que se consolidarão nos humanos ao longo da vida, ali, são germinados.
Como regra, toda a sociedade empobrecida convive, pacificamente, com esta aberração: os seus governantes não colocam os seus filhos nas escolas públicas. Por isso, não se preocupam com as suas deficiências na transmissão do saber e dos valores. Nelas disponibilizam a educação sem qualidade para as pessoas de menor expressão econômica.
Essa silenciosa, absurda, mas pacífica distorção torna muito difícil reduzir as desigualdades. Impede a compreensão de que a felicidade de todos não pode ser alcançada diante da indigência e da miséria de muitos. Falta-lhes perspectiva de ascensão social e de prosperidade porque privados de escola capaz de garantir-lhes a própria dignidade da pessoa humana, fundamento maior do nosso Estado Democrático
de Direito. Sem motivação decorrente do ensino deficitário, comprometem a paz social, obstruindo os passos de todos na caminhada inicial da busca pela felicidade. Viver em permanente ameaça de assalto não pode ser o destino de um povo ao qual a natureza reservou todos os meios para desfrutar do paraíso na terra.
*Djalma Pinto
Autor de diversos livros, entre os quais “Ética na Política, O Direito e o comprovante impresso do voto”, “A Cidade da Juventude” e “Pesquisa Eleitoral e a Impressão do voto”.