“O aposentado que foi mordido apela para punir os tutores com multa”, aponta o jornalista Paulo Rogério
Confira:
O aviso no elevador e na portaria estava bem claro: “reunião geral de urgência às 20 horas. Não faltar”. O motivo – o cocô do cachorro – todos os moradores já sabiam, embora o tal lembrete não fosse esclarecedor. Agradeçamos neste quesito ao grupo de whatzap, grande ponto de encontro onde todos são corajosos, valentões, francos demais e educados de menos. Já parou para pensar em quantos grupos do Zap você participa? Grupo dos primos, das tias, dos amigos dos primos, grupo da família toda. A relação pode ser enorme. Tem gente que fala no grupo, mas no velório de parente nem olha na cara.
Merda por merda, voltemos a pauta da reunião. A mulher do 301, dona de um poderoso pinscher, denunciou que algum au-au valente está fazendo seu serviço no tapete de Bem-Vindo que tem em casa. E pelo tamanho da criatura deixada ali, era de cachorro grande. Silêncio no zap. Ninguém ousou responder. Pouco depois o dono do HB20 cinza, do 604, aproveitou e reclamou do xixi que algum cachorro macho teima em marcar ponto nas rodas de alumínio do seu possante. E que, se ela enferrujar, vai cobrar do sindico.
“Peraí!” gritou o futuro devedor. “E eu tenho culpa do cocô do cachorro? ”. Foi o suficiente para estourar o estopim da algazarra “zapeniana”. 0 202 denunciou que foi premiado quando voltava da piscina e pisou num montinho estranho. E o pior: estava descalço. Teve ainda o aposentado do 703 que, ao abrir a porta do elevador, foi surpreendido pela mordida certeira do dálmata do 508. Exigia focinheira para todos. Inclusive para o salsichinha do 1001.
O prédio se transformou no umbral canino. Pensando bem. Como é que um indivíduo cria a família e um cachorro nestes apartamentos de 50, 60 metros quadrados? Não dá. Cachorro – e gato também – precisa de espaço, precisa correr, morder, latir, fazer cocô. E alguém tem que limpar.
O sindico anterior já havia feito um recenseamento da bicharada no condomínio. No último censo haviam 50 cachorros, 13 gatos, um papagaio, duas tartarugas, uma cacatua, um xexéu, dois coelhos e até uma salamandra. Hoje aumentou uma coisinha. Culpa das gatas parideiras. Mas os ratos sumiram.
O cocô, pivô da briga, no entanto, era de cachorro. Gatos foram inocentados, afinal, eles enterram suas obras intestinais. Os Dálmatas, Pinschers, Pitbull, Poodles, Pastor Alemão, Dog Alemão, Pequinês, estavam na lista. Um deles era o culpado. O cão era o executor, o dono dele o mandante. É ele quem dá a desculpa de levar o danadinho pra passear e não se dá ao trabalho de recolher a obra do amigo peludo.
Vinte horas, começa a reunião. Vinte horas e dois minutos, começa a briga. Nenhum cãozinho está presente para defender seu direito de evacuar com liberdade. A sub sindica, que mora só e não tem qualquer animal, propõe a proibição geral e irrestrita para toda cachorrada. Vaia geral e uma gaitada cearense do dono do caramelo vira lata do 902.
O aposentado que foi mordido apela para punir os tutores com multa. “Isso já tem no estatuto” alertou o ex-síndico. A discussão foi fedendo, fedendo até que surgiu a proposta salvadora: instalar câmeras por toda a área do condomínio para flagrar os meliantes em plena ação e multar os donos que não recolherem o que foi feito, inclusive, indenizando as possíveis vítimas. Tudo será gravado. Que reine a paz no residencial.
O condomínio vive agora o BBC , o Big Brother do Cocô. Primeira temporada.
Paulo Rogério
Jornalista e cronista
Paulorogerio42@gmail.com
Ver comentários (1)
Excelente.
Mas esse é um problema gravíssimo.
Andar nas calçadas está cada vez mais complicado.
É muito cocô e o cheiro forte da urina está cada vez maior.
Lamentavelmente muitos donos de cachorros jogam lixo na rua.
Alguns até recolhem mas deixam o saquinho no mesmo lugar e logo um desatento pisa, rasga o saco e o cocô se espalha no calçado e na calçada.