“O declínio da hegemonia norte-americana”

Emir Sader é sociólogo e cientista político

“BRICS desafiam o poderio dos EUA, que enfrentam um declínio hegemônico acelerado e perdem espaço econômico, político e tecnológico no século XXI”, aponta o sociólogo e cientista político Emir Sader

Confira:

Os Estados Unidos saíram vitoriosos da 2ª Guerra, com a derrota da Alemanha, da Itália e do Japão. Mas, quando esperavam que retornasse uma época de hegemonia única, teve que se ver às voltas com a URSS e o chamado campo socialista.

Tiveram que conviver, ao longo de todo o período da Guerra Fria, com a existência de um mundial. Com o fim da URSS e do campo socialista, de novo os Estados Unidos sonharam com um mundo em que eles seriam a única potência hegemônica.

Mas, de novo, tiveram que se deparar com um mundo bipolar, com o surgimento dos BRICS. Porém, desta vez, têm que se enfrentar a um polo antagônico mais dinâmico e, em certa medida, mais forte que o seu.

Os Estados Unidos seguem sendo a maior economia do mundo, secundado pela China. Mas tecnologicamente, onde os norte-americanos sempre se vangloriaram de ser a vanguarda no mundo, os chineses já os superam. O que é um golpe psicológico muito duro para os norte-americanos.

Ao reunir a força econômica da China à força militar da Rússia e à emergente força política do Brasil, ao que se somaram a Arábia Saudita e outros países petroleiros, os Estados Unidos têm que encarar uma situação sui generis. Se desde o fim da 2ª Guerra lideravam econômica e politicamente o mundo, estão perdendo essa posição privilegiada.

Toda a primeira metade do século XXI está marcada pelo declínio da hegemonia norte-americana no mundo, fenômeno que marcou toda a segunda metade do século XX.

O declínio não é somente dos Estados Unidos, mas de todo o bloco que eles lideram. A Europa se encontra debilitada porque, cruzada por posições de direita e de ultradireita, está dividida internamente. Além de ter perdido importância e peso no mundo, conforme a Ásia recuperou espaço e destaque no século atual.

A consolidação dos BRICS, como polo de aglutinação do Sul Global, representa a confirmação do declínio norte-americano no mundo. A Rússia supera o boicote econômico imposto a ela e, aliada à China e incorporada aos BRICS, volta a se fortalecer. A China se projeta como a grande economia do mundo, por sua força própria e por se tornar a principal parceira da maior parte das economias do mundo, incluídos todos os países da América Latina e dos próprios Estados Unidos.

O governo Trump, por sua vez, representa um passo a mais no declínio da hegemonia norte-americana. Fechar-se sobre si mesmo isola ainda mais os Estados Unidos no mundo e deixa mais espaço livre para a expansão da China e dos próprios BRICS.

Uma nova divisão internacional do trabalho reserva um espaço menor para os Estados Unidos. A primeira metade do século XXI está marcada por esse declínio.

Emir Sader é sociólogo e cientista político

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Uma resposta

  1. Sader é um dinossauro da esquerda que continua com a cabeça na Comuna de Paris. Essas declarações dele me fazem lembrar quando mos anos 1980 ele e outros sabichões professores doutores universiOtários da esquerda blazonavam do Senador Roberto Campos que prenunciava a queda do “socialismo real” no mundo. Menos de dez anos depois a União Soviética se escafedia e o Muro de Berlim se esfarelava sob as picaretas do capitalismo. Sader é seus seguidores continuam patinando na utopia e vendendo ilusões e pesadelos à juventude.

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