“Um grupo decidiu recorrer às armas, convencido de que apenas pela força seria possível mudar o sistema”, aponta o coronel RR Plauto de Lima
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Os protestos eram frequentes, sobretudo vindos da classe média, que denunciava a falta de democracia no Brasil. As camadas mais pobres, receosas de perder benefícios assistenciais, permaneciam à margem. Mas o ambiente era de instabilidade. Manifestações se espalhavam em diferentes frentes: de um lado, os exaltados defendiam um levante armado contra o regime; de outro, cresciam os protestos de massa. O caos parecia incontrolável e um confronto com as forças policiais tornava-se iminente.
A radicalização não tardou. Um grupo decidiu recorrer às armas, convencido de que apenas pela força seria possível mudar o sistema. “Temos que enfiar um punhal verde e amarelo nesse governo”, diziam, em metáfora inflamável. As reuniões, realizadas em segredo, começaram pequenas, mas logo ganharam corpo e se multiplicaram em várias regiões. Com apoio logístico de empresários e simpatizantes, foi organizada a tomada de espaços públicos. A invasão, inicialmente vitoriosa, foi comemorada como triunfo. Mas a resposta do Poder Central veio rápida e implacável.
A repressão caiu com todo o peso. Milhares foram presos em operações de larga escala e conduzidos a presídios. A corte superior enquadrou os envolvidos não apenas em crimes comuns, mas também em delitos de caráter político. As penas duras, justificadas em nome da ordem, apenas reforçaram a sensação de injustiça.
Indignados, os opositores denunciaram abusos em cortes internacionais. Mas, como estas eram compostas majoritariamente por simpatizantes da ideologia dominante no Brasil, ignoraram os apelos por liberdade. Os detidos passaram a ser chamados de “presos políticos”. Sem alternativa, recorreu-se à maior potência do planeta, os Estados Unidos. Uma ação considerada violentíssima abalou o governo brasileiro, que respondeu com discursos nacionalistas, tentando mobilizar a população contra a suposta ingerência estrangeira.
Foi então que políticos perceberam a fragilidade do regime. Chegara a hora de exigir a anistia “ampla, geral e irrestrita”, não apenas para milhares de presos, mas também para os exilados. Movimentos sociais, famílias, partidos e lideranças religiosas organizaram campanhas públicas, pressionando o governo. Parte da “linha dura” rejeitava a ideia, por considerá-la sinal de fraqueza. Mas setores moderados entenderam que reintegrar os opositores era o único caminho para uma transição pactuada rumo à redemocratização. Assim, em 1979, a anistia foi finalmente aprovada.
Você, que chegou até aqui, talvez tenha pensado que falávamos do Brasil de hoje. E não está enganado. Há paralelos evidentes entre aquele período e o momento atual. A radicalização política, o uso dos tribunais superiores para legitimar medidas excepcionais e a perseguição a opositores mostram que a história, sob um novo espectro ideológico, volta a se repetir.
Mais uma vez, o Brasil precisa de uma saída capaz de pacificar a nação. E talvez, assim como em 1979, a anistia “ampla, geral e irrestrita” seja o único caminho para a reconciliação nacional.
Plauto de Lima é coronel RR da PMCe e Mestre em Planejamento de Políticas Públicas
Ver comentários (3)
Parabéns, meu caro Plauto!
Eu, tendo vivenciado os dois mementos da vida nacional, dou o testemunho de que você retrata, com absoluta fidelidade, os dois cenários, numa análise isenta de passionalismos que tanto caracteriza os dias atuais.
Grato Dr Irapuan. Forte abraço!
Excelente merecendo aplausos do Dr. Irapuan.
E o Professor Adriano Pinto também faz uma excelente análise do dia 08/01/23.
https://blogdoeliomar.com/coisas-de-mane-adriano-pinto/