“A democracia brasileira, jovem e vibrante, ainda busca solidez. Ela tropeça nos mesmos desafios de Atenas: o egoísmo travestido de opinião, o populismo sedutor, a desinformação que corrói a verdade”, aponta o empresário e farmacêutico Maurício Filizola
Confira:
Entre as colunas da história, o som do tempo ainda nos chama à responsabilidade.
Caminhar entre as colunas do Partenon é como atravessar o tempo. Cada pedra guarda um silêncio antigo, um sussurro de filósofos que ousaram imaginar que o poder poderia pertencer a todos, e não apenas a poucos. Lá, sob o sol de Atenas, a palavra democracia nasceu não como discurso, mas como uma promessa — de que a voz de cada cidadão teria peso, e que o bem comum seria mais forte que os caprichos do poder.
Enquanto eu observava aquele templo imenso, em ruínas, percebi que talvez seja esse o símbolo mais verdadeiro da democracia: uma obra inacabada, sustentada por colunas que resistem ao tempo, mas que precisam ser restauradas geração após geração.
A democracia é isso — um edifício vivo, que desaba se o povo se ausenta da reconstrução.
Os gregos antigos entendiam que a liberdade exige presença. Eles se reuniam na ágora para debater, votar, discordar. Era ali, no calor do diálogo, que o destino da cidade se moldava. Hoje, nós temos redes, parlamentos, ruas e urnas. Mas, muitas vezes, preferimos o silêncio à participação, a crítica à construção, o julgamento fácil à responsabilidade compartilhada.
E então, reclamamos das rachaduras nas colunas, esquecendo que o templo pertence a todos nós.
A democracia brasileira, jovem e vibrante, ainda busca solidez. Ela tropeça nos mesmos desafios de Atenas: o egoísmo travestido de opinião, o populismo sedutor, a desinformação que corrói a verdade.
Mas o verdadeiro risco não está nos discursos inflamados, e sim na apatia do cidadão comum, que terceiriza o poder e abdica do dever de zelar por ele.
Não há democracia madura sem o exercício cotidiano da cidadania.
Os pilares que sustentam essa construção não são de mármore: são de ética, empatia e coragem. Ética para escolher o certo mesmo quando ninguém observa. Empatia para ouvir o outro, ainda que pense diferente. Coragem para agir — não com palavras inflamadas, mas com atitudes que iluminam o entorno: votar com consciência, cobrar com respeito, servir com propósito, educar pelo exemplo.
Talvez o maior aprendizado que o Partenon oferece não esteja em suas colunas, mas em suas sombras. Elas lembram que toda luz precisa de vigilância. Que a democracia não se herda — se cultiva.
E que a liberdade não é um dom, é uma construção diária, feita de pequenas escolhas e grandes silêncios rompidos.
Enquanto o vento de Atenas soprava entre aquelas ruínas, senti que a democracia não é uma herança grega — é um compromisso humano.
E que, no Brasil, ela florescerá de verdade quando cada cidadão compreender que a pátria não é o Estado, nem o governo, nem o partido.
A pátria é cada gesto que sustenta o bem comum.
Maurício Cavalcante Filizola é empresário, farmacêutico e cronista. Diretor da CNC – Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo