“Esse humanismo, que muitos equivocadamente confundem com solidariedade e mesmo com piedade, apenas resulta em assistencialismo barato”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves.
Confira:
Fui à missa hoje e me deparei com um pregador que encoivarou um discurso metódico e passeou por paragens hermenêuticas distantes do texto do Evangelho do dia, que está em Lucas, 19.11-28. Estranho é que esse padre muito prolixo em suas prédicas, não discorreu mais sobre a bela parábola atribuída ao Mestre pelo médico evangelista, único dos quatro canônicos dotado de maior estudo.
O famoso texto conhecido como a “parábola dos talentos”, procedente do “Manuscrito Q”, segundo a Crítica Textual, e que também está em Mateus 25.14-30) constitui indubitavelmente uma apologia da disciplina, da dedicação e da meritocracia. A personagem central é um nobre, que dispôs-se a viajar “para uma região longínqua a fim de ser investido na realeza e voltar.” Ele deu a dez servos moedas para que eles negociassem enquanto estivesse ausente. Muitos não gostavam do nobre e enviaram mensageiros para dizer (certamente a quem iria investi-lo de poder) que não apreciavam a ideia dele reinar. Mas, o fato é que o homem poderoso regressou e pôs-se a cobrar resultados. Do primeiro servo recebeu a resposta de que o valor recebido havia duplicado. Este foi duplamente recompensado. O segundo também foi recompensado de acordo com seu mediano desempenho. O terceiro, preguiçoso e desleixado, (em toda a época e lugar se encontra um esquerdista) nada produziu, porque tinha medo do nobre e o achava “um homem severo que não depositaste e colhes o que não semeaste.”
Segundo a pedagógica parábola do Bom e Justo Mestre, o nobre não passou a mãozinha na cabeça do absenteísta e negligente servo. Passou-lhe duras admoestações e determinou: “Tirai-lhe a moeda e dai-lhe ao que tem dez.” Os que ouviam nobre, replicaram: “Senhor, ele já tem dez moedas!…” Ao que ele redarguiu: “Digo-vos: a quem tem, mais será dado; mas, àquele que não tem, será tirado até o que tem.” E, na sequência da parábola, o protagonista age de forma radical: “Quanto a estes meus inimigos, que não queriam que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui e trucidai-os em minha presença.” Aqui, é o caso de repetir palavras de Jesus em outros momentos de pregação pública: “Quem tiver ouvidos, que ouça.”
Ouso breve comentário. Em primeiro lugar, está bem claro a exigência do nobre, uma metáfora de Deus, de que lhe prestem vassalagem e não sejam lenientes com os talentos, tanto no sentido monetário da época, como em relação às capacidades que Ele, Deus, nos dá para produzirmos, crescermos e nos multiplicarmos em todos os sentidos. Trazendo a mensagem para os dias de hoje. Nada de estímulo à preguiça, ao ócio, até porque consoante a sábia filosofia popular, cabeça vazia é oficina do diabo. Esse humanismo, que muitos equivocadamente confundem com solidariedade e mesmo com piedade, apenas resulta em assistencialismo barato, com a distribuição inconsequente de bolsas-esmolas, cotas para isto e para aquilo, o que não passa de mecanismo político-ideológico que sinonimiza ludíbrio e enganação das massas ignaras.
No plano teológico fica muito evidente que o preguiçoso e o desleixado para com os mandamentos de Deus, não receberão os dividendos por parte do “nobre”, que cobrará nossas responsabilidades com rigor, quando retornar da “longa viagem”. E para aqueles que insistem numa pregação teológica de falsa libertação para os pobres, a ponto de hereticamente colocá-los no lugar de Jesus Cristo, cumpre dizer com o evangelista: “Buscai primeiro o Reino de Deus e as outras coisas vos serão acrescentadas.”
Barros Alves é jornalista e poeta
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Deus adverte: vai se ter com a formiga preguiçoso.