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“O exemplo da nadadora que atravessou o Canal da Mancha”

Flamínio Araripe é jornalista

“Gertrude Ederle, de 20 anos, em 1926, superou em duas horas o recorde masculino de natação no percurso”, aponta o jornalista Flamínio Araripe.

Confira:

Os 34 km do Canal da Mancha, entre França e Inglaterra, foram atravessados a nado pela primeira vez por uma mulher em 14h34min. A pioneira Gertrude Ederle, de 20 anos, em 1926, superou em duas horas o recorde masculino de natação no percurso, feito até então apenas por cinco homens.

Gertrude Ederle celebrou a vitória na volta aos Estados Unidos, ao desfilar em carro aberto, aclamada por multidões nas ruas de Nova York, na maior manifestação popular jamais vista na cidade para saudar um atleta. Na sua cidade natal, recebeu o título de Rainha das Ondas, com coroa e flores. O público acompanhava com entusiasmo e suspense os informes transmitidos por rádio sobre a evolução da sua jornada nas ondas geladas do Canal. 

Até tocar o solo inglês, a nadadora enfrentou desafios de correntes marítimas e trechos de inevitável contato com águas vivas. Ao se aproximar da costa inglesa, o barco de apoio com seu treinador e o pai, um açougueiro descendente de alemães, não pode acompanhá-la. Já era noite quando teve de seguir sozinha o trecho de águas rasas o bastante para impedir a navegação, mas suficiente para cobrir um adulto.

Esta é história do filme “A Jovem e o Mar” , disponível no canal Disney+, depois de lançado em 31 de maio no circuito comercial nos cinemas em alguns países. O lançamento no streaming em junho antecipa o clima das Olimpíadas de Paris. Em 2009, foi publicada em livro a biografia da nadadora, com autoria de Glenn Stout, adaptado para o cinema por Jeff Nathason e dirigido por Joachim Rønning. 

A atriz Daisy Ridley treinou natação em águas geladas para desempenhar o papel de Gertrude Ederle, a ponto de ficar com os lábios roxos. Gertrude aprendeu a nadar com nove anos e, aos 19, conquistou medalha de ouro e bronze nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1924.

Com 18 anos Gertrude Ederle já havia conquistado o recorde dos 100 metros livre, crawl. Com esse estilo enfrentou o percurso de 56 km da travessia, com água na temperatura de 13 a 16 graus. Bem mais do que os 34 km do Canal da Mancha. O nado no mar não é linear, e por estratégia de seu treinador, Bill Burgess, que realizou a travessia em 1911, a nadadora seguiu a direção das correntes marítimas em parte do percurso. Os homens que haviam atravessado antes o Canal nadavam peito, inclusive seu treinador.

Superação de preconceitos

Gertrude Ederle enfrentou os preconceitos da época contra a mulher. Colocou a vida em risco – muitos haviam morrido na travessia – para desafiar limites impostos por uma sociedade patriarcal. É um exemplo de perseverança, de força do querer, dedicação e preparo para a conquista de seus objetivos. 

Truddy, como Gertrude é chamada por sua família e no filme, dedicou-se à difusão da natação durante sua vida. Viveu até os 98 anos. Uma prova de que a natação faz bem à saúde?

Em paralelo à história da conquista de meta no esporte e na vida, constitui uma história à parte a transformação na família de Truddy para acompanhar a sua evolução. Merece reflexão o papel de sua mãe, pela firmeza, e de seu pai, pela capacidade de rever valores e superar limitações e de sua irmã, pela solidariedade a todo momento. Todo núcleo familiar concentrado no apoio a seu crescimento pessoal, sem medir esforços.

O filme alcançou 87% de críticas positivas no Rotten Tomatoes, indicador de avaliação do cinema, com aprovação de 98% pelo público.

Flamínio Araripe é jornalista

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