Categorias: Artigo

“O fim da beleza”

Plauto de Lima, articulista. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “O fim da beleza”, eis artigo de Plauto de Lima, coronel da reserva da PM do Ceará e mestre em Planejamento de Políticas Públicas. “Interessante notarmos como nas diversas fases da história o poder da beleza dita o dia-a-dia da sociedade, seja nas imponentes galerias de arte, nas praças públicas ou nas curvas de uma jovem caminhando garbosamente no seu local de trabalho com a sua roupa rasgada”, expõe o articulista.

Confira:

Cheguei no meu local de trabalho e percebi a calça da secretária rasgada em várias partes. A primeira impressão que tive foi que ela havia caído de uma motocicleta em movimento. Preocupado, questionei se estava tudo bem. Estranhando a minha pergunta, respondeu, de forma simpática, que estava tudo em ordem. Daí, apontei para a calça rasgada e perguntei o que havia ocorrido. Ela abriu um sorriso e disse que aquilo era um estilo, uma forma de arte, um tipo de beleza.

A beleza, por ter o poder transformador, tem muita importância para a humanidade, pois realça o mundo a nossa volta e nos atrai para coisas profundas. Todavia, o conceito de beleza sofreu várias modificações no decorrer dos anos e se tornou relativo, ao ponto de um urinol (sanitário utilizado em banheiro masculino) de Duchamp ser considerado uma obra de arte e exposta em galeria, ou, até mesmo, uma calça jeans rasgada ser considerada bela.

Aristóteles afirmava que a beleza existe em si mesma, no mundo das ideias, separada do mundo sensível, e reside em ordem, harmonia e grandeza. Platão vê a beleza como o ideal da perfeição, só podendo ser contemplada, em sua essência, através de um processo de evolução filosófica e cognitiva do indivíduo, por meio da razão, que lhe proporcionaria conhecer a verdade harmônica do cosmo. Já Agostinho e Tomás de Aquino, identificam a beleza com o bem, atributo da própria beleza de Deus.

Para o grego, o belo originava-se do culto ao corpo. A cultura grega trazia intensa prática de exercícios físicos, não à toa eles deram vida aos jogos públicos, depois transformados em olímpicos. Os artistas da época registraram o belo nas suas pinturas e nas diversas estátuas esculpidas em mármores, mostrando muitas vezes o corpo despido.

Na Idade Média, o belo sofreu uma influência religiosa e o seu conceito estava relacionado ao plano espiritual, modificando o padrão de beleza dos gregos. Nesse período, surgem os estilos romântico e gótico, que cobriam os corpos com longas roupas, anteriormente retratados nus.

Em seguida, veio o Renascimento, onde se destacou o talento de Leonardo da Vinci e Michelangelo. O estilo religioso é substituído pelo retorno dos valores humanistas e artísticos. A beleza feminina era retratada pelas curvas “cheinhas” e com o retorno da nudez.

Atualmente, vivemos o relativismo, onde a beleza não está mais relacionada aos valores clássicos, mas sim, a uma percepção do expectador. O relativismo entende que não há nenhuma verdade absoluta, nem no âmbito moral nem no campo cultural. Ou seja, a beleza está nos olhos de quem vê. Dessa forma, o urinol de Duchamp virou arte. Inclusive, ele afirmou: “Será arte tudo o que eu disser que é arte”. Nesse sentido, o seu urinol seria tão importante quanto as obras de Da Vinci.

Assim, chegamos ao fim da beleza, onde a contemporaneidade constrói um padrão que retira a ordem e impõe o caos, contrariando a visão aristotélica, a harmonia platônica, o bem divino, a nudez grega, o romantismo religioso e as curvas arredondadas retratadas no humanismo renascentista. Interessante notarmos como nas diversas fases da história o poder da beleza dita o dia-a-dia da sociedade, seja nas imponentes galerias de arte, nas praças públicas ou nas curvas de uma jovem caminhando garbosamente no seu local de trabalho com a sua roupa rasgada.

*Plauto de Lima

Coronel RR da PMCe e Mestre em Planejamento de Políticas Públicas.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Ver comentários (1)

  • A crônica do Cel Plauto deveria ser lida por muitas pessoas que não têm noção dr quão ridículo é andar por aí com as suas calças rasgada.
    Não admiro, não chamo isso de moda: chamo de deboche. Ademais, isso não embeleza ninguém; enfeia na verdade.
    Afora isso, este tipo de roupa não colabora com o ecossistema, por ser de pouca resistência proporciona um alto consumo implicando em produção industrial que poderia ser evitada.
    Finalizo dizendo que as próprias máquinas de lavar podem ter problemas com estas roupas.

Esse website utiliza cookies.

Leia mais