“100% dos times da Série B são patrocinados pelas empresas do gênero, e 70% são patrocinadores Máster. Dos 20 times que disputam a Série A, 18 recebem algum recurso financeiro do referido segmento”, aponta o sociólogo e músico Amaudson Ximenes.
Confira:
As duas últimas derrotas do Ceará Sporting Club pelo Campeonato Brasileiro da Série B – 2024 acenderam o farol amarelo. A semelhança na marcação de dois pênaltis, ambas sem consulta ao Árbitro Assistente de Vídeo (VAR), acendem uma polêmica sobre uma nova variante no “mercado da bola”: a provável interferência das empresas de apostas online e “jogos de azar” no resultado dos jogos.
A participação das referidas empresas nos campeonatos das séries A e B é uma realidade. Só para termos uma ideia, 100% dos times da Série B são patrocinados pelas empresas do gênero, e 70% são patrocinadores Máster. Dos 20 times que disputam a Série A, 18 recebem algum recurso financeiro do referido segmento. Ou seja, além da disputa dentro de campo, ou nos bastidores e tribunais, o futebol da “era digital” é influenciado pelo mercado de apostas online e os jogos de azar.
No ano de 2022 vieram à tona inúmeras denúncias da compra de arbitragens e jogadores que tinham como objetivo manipular os resultados dos jogos para favorecer o lucrativo mercado de apostas. Naquela época, foram denunciados, inclusive, jogadores do Ceará que estavam no elenco que foi rebaixado para a série B após cinco anos consecutivos na Divisão de Elite do Futebol Brasileiro, a série A. Foi também naquele ano, que na Inglaterra, o povo britânico, até então hegemônico no mercado de apostas online, perdeu o posto para os brasileiros.
Segundo uma pesquisa do Instituto Data Folha, divulgada pela Revista Superinteressante (Fevereiro/2024): 15% dos brasileiros já apostaram em sites de Bet, sendo eles mais populares entre os jovens com idade entre 16 e 24 anos, ante 15% da média nacional. Entre homens (21%) e mulheres (9%) cujo gasto médio mensal com apostas é de R$ 263,00 por mês.
Outro dado importante de 2022: doze companhias do tipo figuraram entre as 300 maiores empresas anunciantes em solo brasileiro. Só para termos uma ideia, a Sportingbet, 49ª na referida lista, desembolsou R$ 200 milhões em publicidade.
Mesmo tendo sido regulamentado no ano de 2023, o mercado de apostas esportivas é difícil de ser regulado e fiscalizado, sobretudo no âmbito futebolístico. A briga nos bastidores pela manipulação de resultados é uma realidade. Prevalece uma verdadeira “briga de foices no escuro” por espaço, publicidade, mais clientes e manipulação de resultados favoráveis.
Com a chegada das BET ao “mercado da bola”, o chamado “futebol arte” desaparece. Por outro lado, o “futebol da era digital” caminha a passos largos para se tornar uma mercadoria cada vez mais lucrativa. Dessa forma, agora nem sempre o melhor time vence, mas supostamente aquele que possui uma oferta maior no chamado mercado de apostas online. Sombria perspectiva para o esporte, lucro garantido para os empresários do ramo dos jogos de azar do futebol.
Amaudson Ximenes Veras Mendonça é sociólogo, músico e torcedor do Ceará